Apesar do risco de ser tido pelas novas gerações como um desconhecido, o senador Fernando Collor de Mello, do PTC de Alagoas, admitiu a fontes políticas em Brasília que cogita a hipótese de concorrer novamente a presidente da República. Como tem mandato de senador até 2023, não perde nada, se for derrotado no páreo por outros nomes que estão em maior evidência à sucessão ao Palácio do Planalto. Em contrapartida, Collor vê na disputa a chance de prestar contas da sua renúncia no bojo do processo de impeachment que enfrentou em 1992, acusado de conivência com o esquema PC Farias, um esquema de negociatas e tráfico de influência dentro do poder comandado pelo seu ex-tesoureiro de campanha Paulo César Cavalcante Farias, que foi encontrado morto numa praia em Maceió, capital de Alagoas.
Na época do impeachment, Collor jurava estar sendo vítima de uma orquestração por parte de adversários, que denominou de quartelada parlamentar. As evidências, contudo, do seu envolvimento em transações ilícitas, inclusive, na chamada Operação Uruguai, que teve a participação de Cláudio Vieira Lima, seu ex-secretário particular, eram bastante fortes. O senador paraibano Antônio Mariz, do ex-PMDB, que foi o relator do impeachment de Collor e elaborou uma peça considerada impecável, do ponto de vista técnico e jurídico, chegou a declarar à imprensa paraibana que se tivesse convicção da inocência de Collor, não hesitaria em pedir a sua absolvição. Pediu a condenação, entretanto, por ter concluído que os subsídios constantes dos autos eram fortemente incriminadores das ligações de Fernando Collor com um esquema empenhado em saquear os cofres públicos.
Collor foi a grande sensação da campanha de 1989, que marcou o retorno das eleições diretas para presidente da República, depois de 21 anos de vigência da ditadura militar. O emblema de Collor era o de caçador de marajás, pela campanha que deflagrou quando governador de Alagoas contra funcionários públicos que ganhavam salários elevados no Estado. Ele procurou capitalizar, também, a insatisfação popular contra o governo de José Sarney, que depois de um tempo em lua-de-mel com a sociedade, por causa do Plano Cruzado, congelando tarifas públicas, perdeu o controle da situação e assistiu, inerte, à volta do processo inflacionário em níveis estratosféricos e sufocantes para a população. Começavam a pipocar, também, denúncias e insinuações de prática de atos de corrupção no governo Sarney. Collor chamou o então presidente da República de batedor de carteira. Nas urnas, atropelou condestáveis como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola e Mário Covas e enfrentou, num segundo turno, o ex-líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, concorrendo por uma novidade no cenário brasileiro o Partido dos Trabalhadores.
Desgastado, Collor enfrentou no governo manifestações de protesto nas ruas, capitaneadas por grupos de estudantes chamados de caras-pintadas e liderados pela UNE, presidida pelo jovem Lindbergh Farias, paraibano que fez militância política no Rio, tendo sido deputado federal, prefeito de Nova Iguaçu por duas vezes e atualmente exercendo o mandato de senador por aquele Estado. Decretado o impeachment de Collor, foi investido no cargo para concluir o mandato o vice Itamar Franco, que havia sido governador de Minas Gerais e que era elogiado pela sua seriedade no trato da coisa pública. Itamar acabou legando ao país o Plano Real, de estabilização da economia, mas os resultados positivos foram capitalizados eleitoralmente por Fernando Henrique Cardoso, que acabou se elegendo em 94, sendo reeleito em 98. Em relação a Collor, não é apenas a narrativa do impeachment que ele deve explicar à opinião pública. Terá que dar satisfações sobre sua antiga relação com a Justiça. No momento, por exemplo, ele é réu no Supremo Tribunal Federal na Operação Lava-Jato sob suspeitas de influência na distribuidora da Petrobras no bojo do escândalo do petrolão que levou para a cadeia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nonato Guedes