Edson Arantes do Nascimento, Pelé, rei do futebol e lenda do esporte bretão em todo o mundo, parou guerras, foi agraciado por papas e outras eminências, teve papel decisivo em inúmeras vitórias da Seleção Brasileira e enfrenta, hoje, o peso da idade, com o surgimento de problemas de saúde. Colecionou, também, polêmicas em torno de assuntos que nunca foram a sua especialidade, como a política, a disputa por mandatos e a ocupação de cargos públicos. Uma dessas polêmicas derivou de afirmação atribuída a ele de que o brasileiro não sabia votar. Em uma das dezenas de entrevistas concedidas, foi enfático ao garantir ser uma inverdade a declaração a ele atribuída. Apenas pedi ao eleitor que votasse com seriedade, enfatizou Pelé.
Armando Nogueira, noseu livro O Canto dos Meus Amores, cita que certa vez Pelé jogava pelo Santos um torneio na Colômbia. Num desaguisado, o árbitro expulsa Pelé. Os jogadores do Santos cercam o árbitro, pedem clemência. O homem, inabalável, mantém a expulsão. Pelé deixa o campo. O estádio inteiro se levanta e começa a vaiar. Pelé sorri, compreensivo. Está cansado de saber que o torcedor é assim mesmo. No mundo todo. Faz catimba pro time de casa. De repente, o público começa a atirar no campo as almofadas da arquibancada. A onda cresce. Todos gritam, todos protestam. Contra quem? Pasmem, meus amigos: contra o árbitro. Querem ver Pelé no campo, por bem ou por mal. A essa altura, Pelé já sumiu pelo túnel. Os cartolas colombianos vão atrás dele, apavorados. Entram no vestiário. Pede que Pelé volte. Pelo amor de Deus. Pelé diz que não está entendendo nada, mas está. Os homens explicam que se ele não continuar no campo, a torcida, inconformada, vai invadir o campo. Será um massacre.
– E o juiz?- pergunta Pelé, sem precisar ouvir resposta.
O rei entra em campo de novo. O estádio recebe-o com aplausos. É aclamado. O estádio é uma alegria só. O jogo recomeça. No apito, agora, um bandeirinha. Enquanto Pelé tomava sua chuveirada, numa boa, Sua Senhoria, o árbitro principal, estava sendo expulso de campo, escorraçado pela multidão. Nos depoimentos a repórteres, confessou uma frustração sua: a natação. Não aprendera a nadar e considerava isto uma vergonha. Entre os políticos dignos de admiração, mencionou, em entrevista à Playboy, o ex-presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Admirava, também, Leonel Brizola. Com demagogia ou não, voltou-se para a educação, justificou, aludindo aos Cieps criados por Brizola como governador do Rio. Uma coisa é certa: nunca cogitou entrar na política, disputar mandatos eletivos. Convites não faltaram, de partidos e de condestáveis de agremiações. Sempre preferiu fazer omelhor que sabia: aplicar gols nos adversários, balançar redes inimigas. Isto, ele fazia com maestria, deixando adversários atônitos e fazendo estádios silenciarem diante magnitude dos dribles e da habilidade em esquadrinhar o arco do goleiro.
Nonato Guedes