A minha modesta declaração de voto, ontem, na candidatura da jornalista e professora Sandra Moura a presidente da Associação Paraibana de Imprensa foi pesada e medida, avaliada e amadurecida ao sabor de análises da realidade que a entidade vive hoje, e, mais precisamente, dos desafios que precisa empalmar. Apesar da predominância do Sindicato de Jornalistas Profissionais, com sua combatividade testada nos embates com representantes de empresas em defesa de reivindicações da categoria, a API sempre teve um peso político expressivo, marcante, diferenciado, diria mesmo emblemático, por vocalizar posições diante da conjuntura em momentos críticos. É a Casa do debate, por excelência, território onde se diluem as divergências no confronto salutar e agregadora de movimentos representativos da sociedade civil que em momentos de trevas buscam um farol para abrir veredas nestes trópicos de Sanhauá e da ponta do Seixas.
Infelizmente, nos últimos anos, a Associação Paraibana de Imprensa, que tive a honra de dirigir e que abriu na Paraíba a discussão sobre a Constituinte que iria se tornar, depois, efervescente no país, tendo como corolário a promulgação da Constituição Cidadã de 88, assim designada pelo doutor Ulysses Silveira Guimarães, não é tomada mais como referência. Já não falo nem nas palestras e nos debates sobre os problemas nossos. Jornais fecharam na Paraíba, jogando ao léu um punhado de profissionais de qualificação invejável e a API se omitiu, não fez o papel que era dela o de porta-voz ou interlocutora das pulsações, mediatizando a relação com a própria sociedade, destinatária da informação livre. Tem mais: o jornalismo digital chegou com força, acompanhando tendência mundial. E não houve qualquer iniciativa da API para congregar jornalistas e donos de empresas num vis a vis sobre alternativas de superação de impasses. Tal qual a reação do povo, que assistiu bestificado à Proclamação da República no Brasil, no dizer de Aristides Lobo, a Associação Paraibana de Imprensa, obra engenhosa de plumitivos dos nossos meios de comunicação, silenciou, acovardou-se, acocorou-se, impotente e esmagada por um fato sem dúvida consumado, mas reversível.
Trabalhava eu em O Norte, quando O Norte fechou. Aliás, quando O Norte foi assassinado, tal como descrevi em desabafo na internet, dividindo sangue, suor e lágrimas com Nara Valusca, minha editora, Clóvis Roberto, o mano Linaldo Guedes, e tantos e tantas que foram sumariamente expurgados, sem deixar de mencionar luminares respeitáveis como Gonzaga Rodrigues e figuras admiráveis como Goretti Zenaide. Onde estava a API quando as redações de O Norte, Diário da Borborema, mais tarde do Jornal da Paraíba viraram penosos retratos nas paredes da memória ou da história? A API não estava, e isto nos fez uma falta tremenda. Quando Biu, Gonzaga, Rubens Nóbrega, Walter Santos, José Euflávio, dirigiram a API, era lá, nas escadarias do prédio da Visconde de Pelotas e no auditório onde buscávamos, quando nada, aconchego moral, solidariedade. Ficamos órfãos do talvez, quem sabe, tal qual na ditadura militar, guardadas as proporções, porque ao delito do assassinato somou-se o crime da omissão, da covardia, a pretexto de impotência.
Sobrevivemos porque temos fibra, porque forjamos nossas personalidades, nossa têmpera. Mas a indiferença crassa da Associação Paraibana de Imprensa feriu fundo corações e mentes. Aliás, vou mais adiante: o cenário desolador que se instalaria no ambiente dos órgãos de imprensa vinha se tornando previsível. Havia tempo suficiente para a adoção de medidas profiláticas que estancassem a sangria posterior a que fomos submetidos. Nem sequer isso ocorreu ao fosfato da atual presidência, com todo o respeito ao meu amigo João Pinto. A imagem que recortei foi a sensação de canto do cisne. Os cisnes cantam quando intuem a morte inexorável se achegando. Nada podem fazer porque o processo é esse mesmo o da inexorabilidade. Com a API, não.
Sandra Moura está rompendo grilhões porque cansou de esperar chances para interferir, para oferecer seu contributo, aprofundar canais de interlocução que chegassem ao poder da solução. Ela busca, agora, de forma motivada, ser a protagonista. Tem um caleidoscópio de ideias, propostas, e uma credibilidade que é aval importantíssimo para a API nestes tristes tempos. É com ela que vou, por nós, pela API.
Nonato Guedes