Com dezenove pré-candidatos e o líder das pesquisas na cadeia, a disputa presidencial de 2018 no Brasil começa a tomar ares de uma tempestade perfeita. É o que profetiza a revista Veja em matéria da sua edição impressa, que denomina a eleição presidencial de outubro de pleito do fim do mundo. Conforme o texto, que tem caráter editorial, era para ser a eleição da renovação e do sepultamento daquilo que se convencionou chamar de velha política. Até aqui, porém, a campanha de 2018 tem sido fonte de notícias que trazem mais susto que perspectiva. Os extremos têm notável musculatura. De um lado, está um capitão da reserva que em vez de portar-se como candidato a presidente, parece fazer campanha para delegado de polícia, e agora lida com fantasmas de seu passado. De outro, um ex-presidente encarcerado, cujo nome nem deveria aparecer nas pesquisas, já que sua candidatura inexiste, mas contribui para dar um ar de realismo fantástico ao pleito: o preferido do eleitorado dorme e acorda vendo o sol quadrado. O capitão da reserva às voltas com fantasmas do passado é o pré-candidato Jair Bolsonaro. O ex-presidente encarcerado, que lidera pesquisas, é o líder do PT Luiz Inácio Lula da Silva, preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Na análise de Veja, trata-se de um cenário raro de ser visto em qualquer democracia do mundo. E para completar o desalento, o centro ideológico, que normalmente incorpora o equilíbrio político, murcha a olhos vistos e, assim, dissemina-se a impressão de que o país pode estar começando a montar uma tempestade perfeita. Nas simulações para o segundo turno, o cenário é igualmente turvo. Até o momento, a presença de Jair Bolsonaro nele parece garantida, mas é impossível prever quem será seu adversário. A ex-senadora Marina Silva, da Rede, aparece na última pesquisa do Datafolha como a única capaz de vencer o ex-capitão, mas ela própria lida com enormes obstáculos para fazer uma campanha realmente competitiva. Faltando quatro meses para o pleito, não há ninguém capaz de incorporar a apregoada nova política. Cortejados para envergar esse figurino, o apresentador Luciano Huck e o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, desistiram antes da largada. A isso se soma um eleitorado desiludido.
Conforme o Datafolha, sem a presença de Lula nas urnas, 33% dos eleitores dizem que não pretendem votar em ninguém um porcentual recorde a quatro meses da votação, que não chega propriamente a ameaçar os fundamentos democráticos, até porque vem se revelando uma tendência eleição após eleição. Por enquanto, impera mesmo a apatia, e ela se impõe por uma série de fatores, pontua a matéria da Veja. Um dos fatores é o excesso de candidatos, exatamente dezenove. O dinheiro, com a nova legislação em vigor, tende a ser mais escasso que nas campanhas anteriores. Além disso, o que se viu até agora é uma tremenda aridez no terreno das ideias. Em suma, é impossível fazer qualquer prognóstico com um grau razoável de certeza, acrescenta Veja. Na última pesquisa, Jair Bolsonaro despontou com 19%, Marina Silva com 15%, Ciro Gomes com 10% e Geraldo Alckmin com 7%- depois deles, uma legião de candidatos ainda mais nanicos. O quadro se mantém praticamente inalterado desde abril, o que favorece Bolsonaro, em tese.
Mauro Paulino, diretor do Datafolha, explica que o principal desafio nesta campanha será tirar o eleitorado de uma situação de letargia. Na sua opinião, ganhará musculatura o candidato que conseguir colher apoio, principalmente entre os 33% que não querem votar em ninguém. É um grande desafio para todos. Bolsonaro tem tentado medir as palavras para amenizar a imagem radicalizada, Marina luta contra o isolamento em que se colocou, Ciro, que já tropeçou na própria língua em outras campanhas busca conquistar petistas sem associar sua imagem à corrupção e Alckmin enfrenta os mesmos obstáculos de 2006: não empolga nem o ninho tucano. Parece o fim do mundo, arremata Veja.
Nonato Guedes