Em uma de suas últimas edições, a revista Época fez trocadilho humorístico entre os jogadores da Seleção Brasileira que estão na Copa do Mundo na Rússia, agora classificados para as oitavas, e os incorrigíveis políticos que atuam no setor da maracutaia, da malandragem, e que entram em cena depois dos jogos que estão se desenrolando. Em texto ilustrativo de figuraças da Copa, Renato Terra afirma: Desde que o Canarinho foi substituído pelo Pato da Fiesp, o Brasil mudou o jogo: Dilma foi deposta, Lula foi preso e David Luiz nunca mais chorou com a camisa verde e amarela. Os adversários caíram, absortos, diante do revolucionário esquema tático que defende em bloco, com o Supremo, com tudo. No ataque, amigos de Michel Temer atuam sem posição fixa, sem endereço fixo, num sistema que ficou conhecido como Laranja Satânica. Em situações dramáticas, o escrete ainda conta com cartas na manga, como a intervenção precisa do general Villas Bôas para recompor o meio de campo.
O álbum superfaturado com o verdadeiro esporte do qual o Brasil é campeão no mundo veio, em momento oportuno, segundo Renato Terra, valorizar os craques que trouxeram de volta a autoestima para a camisa da CBF. Gente de bem que sabe a diferença entre um 7 a 1 e 171. Que sabe distinguir Neymar de Rodrimar. E, claro, tem clareza ao separar a lista do Tite da lista da Odebrecht. A mascote eleita por Época foi o fantasma de 64 mais agressivo que o Canarinho Pistola combinado com Rogerinho do Ingá. A nova mascote representa a busca por ordem na Seleção O técnico da Seleção é o Romero Caju (Romero Jucá). Responsável pelo esquema tático, soube o momento certo de escalar o Michel num grande acordo nacional. Já Michelito (Michel Temer), goleiro, mesmo sem popularidade para jogar na linha conquistou a vaga depois da contusão do goleiro titular. Muito hábil com as mãos na reposição de jogo.
Há o Mineirinho (Aécio Neves), de posição indefinida, que pode atuar na esquerda, na direita ou no centro. Voa em campo. Por vezes, avança demais, deixando uma avenida e um aeroporto abertos em seu setor. Paulinho da Força é o armador recuado, que ganhou notoriedade ao marcar de perto o ensaboado Eduardo Cunha. Também é reconhecido pelo vigor sindical e pelos lançamentos competentes de Carteiras de Trabalho. Paulão (Maluf) é armador avançado. Rouba a bola e faz a jogada. Capaz de erguer viadutos que ligam o meio de campo ao ataque com velocidade, o veterano Paulão sempre atuou no Brasil. Não tenho, nem nunca tive contrato no exterior, costuma dizer. A lista paralela incluiu Duarte (Regina), meia recatada e do lar, belo caso de superação da síndrome do pânico, um exemplo de bom comportamento para todos os companheiros. Bolsonaro Júnior é lateral direito. Defende, pela extrema-direita, a ditadura militar. Faz cruzamentos perigosos e joga armado. Cris Brasil é zagueira (referência a Cristiana Brasil, deputada do PTB, envolvida em falcatruas sindicais). A zagueira possui hábitos dos craques da década de 80: frequenta iates, joga futevôlei, usa viseira e coleciona processos trabalhistas. Estava em todas as convocações mas acabou fora da Copa.
Kim Pikachu (Katiguiri)é ala liberal. Revelado nas divisões de base do Clube de Regatas Mises, o jovem disputa narrativas pelos extremos do campo e possui rara habilidade em manipular a bola. Susaninha Carioca (Susana Vieira) é volante. Pode roubar a bola com a mesma naturalidade com que tira o microfone de apresentadoras iniciantes. Possui extrema energia vital, não para em campo. Ronaldo Feromônio(Ronaldo Nazário), o Falso 9 é hábil apoiador pela direita. O atacante costuma se eximir de culpa nos resultados negativos. E, completando a escalação, João Maravilha (Doria), que atua como Gestor. Possui destreza incomparável para costurar as defesas mais fechadas com permutas irresistíveis. Infelizmente, abandonou a Seleção para jogar pela França. Há dois principais adversários mencionados no álbum de figuraças da Copa. Um deles é Diego Armando Intentona (Maradona), flagrado com a camisa amarela Lula, número 18. Depois de fazer gol de mão em 1986 e dar água batizada para o lateral Branco em 1990, Intentona pode contra-atacar pelas brechas da lei para colocar fogo no Brasil. É preciso que Sérgio Moro continue a marcação homem a homem. Por último, no rol adversário, está DimilKremenliev (Dilma Rousseff). A ameaça búlgara ronda os piores pesadelos do Brasil com seu idioma incompreensível e sua ingerência desastrosa no andamento da partida. É preciso dobrar a meta de vencer a todo custo.
Os leitores podem não gostar de mencionadas figuraças da Copa. Mas é o que temos!
Nonato Guedes