O economista paraibano Maílson da Nóbrega considera que os caminhoneiros tornaram-se uma corporação poderosa e perigosa para o país, podendo paralisá-lo, ameaçar a normalidade do abastecimento, prejudicar as exportações e comprometer o funcionamento de hospitais, aeroportos e demais pontos críticos. Isto ficou demonstrado, segundo ele, na recente greve deflagrada pelos caminhoneiros, na qual o governo do presidente Michel Temer (MDB) ficou acuado e acabou fazendo concessões maiores do que deveria, transferindo a conta para os que pagam impostos. O governo sacrificou programas relevantes nas áreas de educação e tecnologia, para compensar os custos da capitulação, alertou Maílson em artigo publicado na revista Veja.
Ministro da Fazenda no governo Sarney, na década de 80, Sarney sugere que o poder público deve repensar as formas de lidar com a realidade provocada pela paralisação dos caminhoneiros. Nenhuma outra corporação, entre as muitas que defendem seus interesses contra os da maioria, é tão poderosa. Por outro lado, não aprendemos com experiências fracassadas. Aceitaram-se uma nova reserva de mercado e o tabelamento de preços. Os caminhoneiros foram instigados a controlar o preço do diesel. Só faltou ressuscitar a Sunab, ironizou o ex-ministro.
Para ele, diante da paralisação registrada em grandes proporções, a negociação deveria ser condicionada ao retorno da normalidade no caso, o desbloqueio das estradas. Se isto não acontecer, é preciso garantir o direito de ir e vir, de trabalhar, de cuidar da saúde e de abastecimento, ponderou. Na sua avaliação, o governo, confrontado com uma situação de impasse, deixou-se guiar pela velha cultura política que busca acomodar pressões e nunca descontentar ninguém. Sem estratégia para prevenir a crise e lidar com as pressões, ele reagiu tarde e às tontas, fustigou o ex-ministro. Que mencionou, também, como origem remota do problema, a prioridade conferida nos anos 1950 ao transporte rodoviário, em detrimento de outros modais. Outra causa estaria associada à Constituição de 1988, que provocou aumento da tributação de combustíveis e redução dos investimentos em infraestrutura, por imposição da rigidez fiscal. A redução piorou a qualidade das estradas e elevou os custos da logística, frisou.
Maílson da Nóbrega adverte que os governos do PT contribuíram para a crise, concedendo incentivos à compra de caminhões e com isto gerando a maior recessão da história. A oferta de frete subiu e a recessão fez a demanda cair o corolário foi a redução da margem de lucro ou o prejuízo aos caminhoneiros, que não tinham como elevar o valor do frete. A situação piorou com os aumentos do diesel. Os caminhoneiros tinham lá suas razões, teoriza o ex-ministro. Por fim, Maílson da Nóbrega reclama que ideias arcaicas sobre as estatais mostraram-se mais vivas do que nunca. Houve quem propusesse que o preço dos combustíveis refletisse apenas os custos de refino, pois o petróleo seria grátis. Senadores condenaram a bem-sucedida gestão da Petrobras e pediram a demissão do seu presidente. Para um deles, a empresa precisa de visão empresarial, sensibilidade social e responsabilidade política. Foi por aí que o PT quase quebrou a empresa. E arremata Nóbrega: A greve, a incompetência do governo, a atitude dos políticos e a reação da sociedade mostraram que ainda temos muito a evoluir. Está difícil ser otimista.
Nonato Guedes