Sem candidato próprio a governador, e com os quadros locais dizimados como reflexo da desconstrução nacional produzida no bojo do impeachment da presidente Dilma Rousseff e da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT da Paraíba agarra-se ao governador Ricardo Coutinho (PSB) como um bote salva-vidas para garantir espaços na cena local, embora o gestor não seja candidato a nada e tenha decidido permanecer no cargo até o último dia do mandato. A postura dos petistas sinaliza uma tentativa de reaproximação com Ricardo, que sofreu manobras de expulsão quando era deputado estadual pelo PT e foi acusado no ano 2000 de infidelidade partidária. Ricardo fora o mais votado na história do PT, mas era considerado independente. Foi listado entre os culpados pela derrota de Luiz Couto a prefeito de João Pessoa e não teve garantia de legenda para ser ele próprio o candidato a prefeito, tendo que se desfiliar da agremiação e ingressar no PSB, onde se elegeu duas vezes.
Ultimamente o PT vinha impondo uma série de exigências para apoiar a candidatura do ex-secretário João Azevedo, lançado por Ricardo no PSB, à sua sucessão. Uma das exigências referia-se à destinação de vaga ao PT na chapa majoritária. Uma outra pleiteava que Ricardo se desfizesse da companhia de políticos tidos como golpistas porque apoiaram o impeachment de Dilma, a exemplo de Veneziano Vital do Rêgo, pré-candidato ao Senado pelo PSB. O governador fincou pé em não capitular ante as exigências. Os petistas recuaram e impuseram uma única condição para apoiar Azevedo: a reciprocidade mediante o apoio dele à candidatura do ex-presidente Lula da Silva ao Planalto. Em tese, Lula é o candidato preferido do governador, que o trouxe à Paraíba para visitar obras da transposição de águas do rio São Francisco, juntamente com a ex-presidente Dilma Rousseff. O problema está no próprio Lula, cuja viabilidade da candidatura está ameaçada em virtude dos processos que enfrenta e da prisão que cumpre em Curitiba por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, segundo apuraram as investigações da Operação Lava-Jato.
Entre as conquistas que o PT perdeu na Paraíba figura o controle da prefeitura de João Pessoa. Em 2012, Luciano Cartaxo, então filiado à legenda, foi eleito em segundo turno, derrotando o senador tucano Cícero Lucena e tornando-se o único prefeito de Capital nordestina agregado ao PT. João Pessoa passou a ser encarada pela cúpula nacional petista como a joia da Coroa. Na campanha pela reeleição, em 2016, entretanto, Luciano Cartaxo já estava a léguas de distância do PT. Para não se desgastar indiretamente com os escândalos que levaram expoentes da direção nacional petista à cadeia, Cartaxo e seu grupo migraram para o PSD, então comandado na Paraíba pelo falecido deputado federal Rômulo Gouveia. Em meio a articulações e projeções para Luciano ser candidato da oposição ao governo do Estado, o clã Cartaxo migrou, novamente, para outro partido, alojando-se no PV. Numa sequência de movimentos rápidos, ao concluir que não havia unido as oposições na Paraíba, Luciano resolveu permanecer na prefeitura da Capital, desistindo de concorrer ao governo estadual e passou o bastão de candidato para o irmão Lucélio, que compôs chapa tendo como vice a doutora Micheline Rodrigues, esposa do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues.
A prioridade do PT paraibano, na atual conjuntura, é para eleger deputados estaduais e federais neste último caso garantindo a permanência de Luiz Couto na Câmara. Na Assembleia Legislativa, deputados como Anísio Maia e Frei Anastácio Ribeiro partirão para a tentativa de renovação dos seus mandatos, conscientes dos desafios, ampliados pela concorrência de candidaturas de outros partidos. Adversários petistas na Paraíba afirmam que o partido está em vias de extinção. Há sinais de que o processo de corrosão venha a minar as fileiras petistas. Mas o futuro é imprevisível. E os petistas paraibanos ainda acreditam em milagre e em volta por cimano cenário político-partidário do Estado. Por enquanto, mesmo comandando outro partido, o governador Ricardo Coutinho é o fiador da sobrevivência do PT, o que não deixa de ser uma ironia.
Nonato Guedes