No capítulo das desavenças entre governantes e vices na história política da Paraíba, um dos casos de maior repercussão deu-se em 2012 nas eleições para a prefeitura de João Pessoa. Ricardo Coutinho (PSB) renunciou ao comando executivo municipal para disputar o governo do Estado em 2010, saindo vitorioso. Na prefeitura foi investido o então vice-prefeito Luciano Agra, arquiteto de competência profissional reconhecida, mas neófito na disputa de mandatos políticos. Agra surpreendeu a Ricardo e aos analistas políticos demonstrando habilidade num território que lhe parecia hostil e foi assim que criou as condições para sair candidato a prefeito em 2012, no seu caso concorrendo à reeleição por já estar investido na titularidade da prefeitura.
Quando Agra avançava no terreno das alianças e composições, tendo como parceiro o jornalista Nonato Bandeira, que depois foi vice-prefeito da Capital, o governador Ricardo Coutinho decidiu pôr um freio de arrumação na investida do seu ex-companheiro de militância política, mexendo com os cordéis para que a sagração de sua candidatura fosse rifada no âmbito do PSB. A fulminante estratégia de Ricardo, obviamente, surtiu efeito. Agra foi defenestrado do páreo por Estelizabel Bezerra, candidata in pectoris do governador, que teve performance razoável na disputa eleitoral, mas não conseguiu alçar voo rumo ao segundo turno. Ainda assim, Estelizabel obteve cacife para se eleger, em 2014, deputada estadual, passando a reforçar a bancada de sustentação de Ricardo na Assembleia Legislativa. Luciano Agra deu o troco, passando a apoiar a candidatura do xará Luciano Cartaxo, que concorria pelo PT e que foi indicado pelo eleitorado para o segundo turno, onde enfrentou Cícero Lucena, então senador do PSDB. Luciano Cartaxo foi eleito, posteriormente reeleito e desistiu de concorrer ao governo do Estado este ano, apesar de ter pontuado bem em algumas pesquisas de opinião pública. Patrocinou estratégia que resultou no lançamento da pré-candidatura do seu irmão gêmeo, Lucélio, que tem como vice a doutora Micheline Rodrigues, mulher do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues.
A fritura na disputa eleitoral pela cúpula do PSB,com o aval ostensivo de Ricardo Coutinho, produziu forte impacto emocional para o ex-prefeito Luciano Agra, já falecido, a ponto dele expressar, em correspondência dirigida ao eleitorado pessoense acerca do desfecho envolvendo o seu projeto de ser candidato, que estava profundamente desencantado com o que denominou jogo bruto da atividade política, alusão ao vale-tudo nos bastidores das disputas eleitorais. Aliados e amigos de Luciano Agra ensaiaram mobilizações públicas tendo como foco o queremismo tupiniquim, que implicaria na sua volta ao páreo como candidato a prefeito de João Pessoa. Ele chegou a se sensibilizar com as manifestações, todavia, já não era fácil o espaço na conjuntura política para uma candidatura. Na sua morte, o governador Ricardo Coutinho divulgou nota enaltecendo qualidades de Agra e a colaboração que ele ofereceu aos projetos de desenvolvimento da Capital. Na prática, o ex-alcaide não deixou herdeiros políticos.
Nonato Guedes