Os analistas políticos consideram inédita, desde 82, a atual conjuntura política-eleitoral na Paraíba, em que uma vice-governadora, a doutora Lígia Feliciano, do PDT, confronta o governador Ricardo Coutinho (PSB), que se mantém no exercício do cargo, e mantém a candidatura à sua sucessão sem o apoio dele ou do esquema que ele comanda, vinculado à máquina administrativa. O governador e seus aliados apoiam ostensivamente a candidatura do ex-secretário João Azevedo, um técnico de qualificação inegável mas sem qualquer histórico político, uma vez que não disputou qualquer mandato no Estado, seja majoritário ou proporcional. Filiado ao PSB, ele é o nome in pectoris do governador, que, inclusive, optou por permanecer no Palácio da Redenção, desistindo de concorrer ao Senado, para tentar reforçar a eleição do apadrinhado.
Em meio ao quiproquó político local há um contencioso que separa Ricardo de Lígia, a quem ele procurou faltando poucos dias para o registro da chapa à reeleição em 2014, convidando-a para ser sua companheira de chapa, como representante de Campina Grande. O contencioso ficou refletido nas acusações de Ricardo, ultimamente, de que Lígia e seu marido, o deputado federal Damião Feliciano, presidente estadual do PDT, conspiraram contra o governo ricardista a fim de tentar impor, a todo custo, a candidatura da médica. Ambos desmentem a insinuação. Lígia, inclusive, não passa recibo de intrigas políticas e, publicamente, afirma ser sócia do saldo positivo da atual administração, por ter cumprido missões administrativas e por ter participado de reuniões decisivas para escolha de prioridades. Ela garante, nas entrevistas e manifestações em redes sociais, que vai dar continuidade ao que chama de saldo positivo da gestão, acrescentando ideias próprias que tem colhido em contato com segmentos populares, a exemplo de sugestões pedindo atenção para a geração de empregos no Estado.
O deputado Damião Feliciano lutou, nos bastidores, para tentar sensibilizar o governador Ricardo Coutinho a apoiar o nome da sua esposa à sucessão estadual. As derradeiras esperanças foram desfeitas quando o chefe do Executivo anunciou a sua decisão de permanecer no exercício do cargo até o último dia do mandato, abrindo mão de concorrer ao Senado, para não colocar em risco o projeto de continuidade administrativa que, segundo ele, somente João Azevedo está credenciado a executar, pelas afinidades com o ricardismo. O episódio que ocorre e que chama a atenção da crônica política é referenciado como atípico quando é feita a analogia com o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), que teve Lauremília Lucena, esposa do ex-senador Cícero Lucena, como vice-governadora no primeiro mandato, mas não como candidata à sucessão. Menciona-se, ainda, o caso de Cícero Lucena, que em 90 foi candidato a vice de Ronaldo Cunha Lima, pai de Cássio. A chapa foi eleita, Cícero concluiu dez meses do mandato, jáque Ronaldo se desincompatibilizou para concorrer, e vitoriar, ao Senado, mas não pleiteou um mandato a governo. A reeleição só foi reintroduzida no sistema político brasileiro em 98, beneficiando na Paraíba a José Maranhão, que assumira com a morte de Antônio Mariz em 1995.
Lígia enfrenta dificuldades até para formar alianças que garantam suporte à sua candidatura. Dificilmente terá chances de se eleger ou até mesmo avançar para o segundo turno. Mas ela tem a expectativa de vir a ter mais votos do que João Azevedo, o candidato do governador, com isto credenciando-se para papel importante num segundo turno, e, de forma colateral, contribuindo para a recondução do marido Damião Feliciano a deputado federal. Aparentemente o páreo está polarizado entre Lucélio Cartaxo (PV), irmão gêmeo do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, cuja vice é a doutora Micheline Rodrigues, mulher do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSDB, e o senador José Maranhão (MDB), que tem história política e imagem estadualizada. Os interlocutores do governador Ricardo Coutinho advertem, porém, que ele ainda pode operar o milagre de catapultar João Azevedo para a dianteira e, consequentemente, para a vitória nas eleições de outubro.
Nonato Guedes