Preso em Curitiba desde abril, na Superintendência da Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu à cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores que tornasse pública uma carta por ele dirigida ao povo brasileiro em que afirma não ter mais motivos para confiar na Justiça e reafirma que vai ser candidato a presidente da República, desafiando os prognósticos de que seria inelegível por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa. O comunicado de Lula coincidiu com a atitude do Supremo Tribunal Federal determinando a soltura do ex-ministro José Dirceu, envolvido em vários processos, inclusive, os remanescentes do mensalão.
Interlocutores de Lula afiançaram ao jornal O Globo que a sua carta ao povo brasileiro teve o simbolismo de não abrir a guarda para que outro petista tome o lugar de candidato ao Planalto. A expectativa pessoal de Lula é a de registrar sua candidatura até o dia quinze de agosto, independente dos problemas jurídicos que vai ter que enfrentar, com pedidos de impugnação formulados por partidos adversários ou com interpretação desfavorável a ele da própria Justiça Eleitoral. José Dirceu, que foi todo-poderoso chefe da Casa Civil no governo Lula e que sempre ambicionou suceder a Lula, está sob liberdade cautelar, o que significa que continuará respondendo a processos com acusações que lhe são imputadas.
A interlocutora da correspondência do ex-presidente Lula foi a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e representante do Paraná no Congresso Nacional. Já em Brasília, hoje, Gleisi Hoffmann deu ciência do teor das palavras de Lula e endossou como legítima a postulação dele. O argumento central sustentado por Lula é o de que não cometeu nenhum crime e que está sendo penalizado injustamente. Ele insiste na narrativa de que, pessoalmente, é vítima de perseguição política, enquanto, do ponto de vista partidário, acredita que há uma orquestração para tentar dizimar o PT nas urnas. Nas últimas horas o ex-presidente foi cientificado de que o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, passa a ser seu advogado nos processos em que está arrolado.
Haddad tem sido cogitado como suposta alternativa ou Plano B do PT para a sucessão presidencial na impossibilidade de Lula concorrer. A senadora Gleisi Hoffmann, entretanto, já deixou claro, em várias oportunidades, que o PT não se debruça sobre Plano B uma vez que vai insistir na candidatura de Lula e no seu registro. A persistência de Lula em se declarar candidato cria um problema para forças políticas de esquerda que vinham idealizando uma frente para a eleição na hipótese de impedimento da candidatura de Lula.
Nonato Guedes