Enquanto na atual conjuntura a vice-governadora Lígia Feliciano mantém candidatura ao governo da Paraíba mesmo sem qualquer estímulo oficial, da parte do governador Ricardo Coutinho, que apoia a candidatura de João Azevedo, em 1986 o vice-governador José Carlos da Silva Júnior chegou a renunciar à titularidade do cargo, em conjunto com Wilson Braga, postulante ao Senado, para encarar no voto a disputa ao Palácio da Redenção. Já afastado do poder, durou pouco a lua de mel de José Carlos, proprietário do Grupo São Braz e do Sistema Paraíba de Comunicação (que inclui a TV Cabo Branco), com o sonho de uma candidatura forte a governador. Ele passou a desconfiar de que estava sendo cristianizado por grupos do PDS e do PFL, mais comprometidos com a candidatura de Braga ao Senado do que com a sua. E, em paralelo, reagiu duramente às pressões feitas por políticos do esquema para ser uma espécie de trem-pagador da campanha, financiando candidatos majoritários e proporcionais.
O batismo de fogo da candidatura de José Carlos deu-se num comício à noite no centro da cidade de Cajazeiras, Alto Sertão paraibano. O palanque estava cheio de oradores, havia um público expressivo na assistência, mas os gritos de vivas e saudações eram dirigidos exclusivamente a Braga, omitindo inteiramente qualquer referência a José Carlos. Na sua vez de discursar, o pré-candidato a governador pregou para o deserto a multidão, a esta altura, carregava o ex-governador Wilson Braga em passeata pelas ruas da cidade. Na mesma noite, José Carlos foi a Brejo das Freiras, onde estava hospedado, recolheu seus pertences e tomou um avião rumo a João Pessoa. No dia seguinte, em seu escritório no Grupo São Braz, divulgou carta à imprensa renunciando à postulação. Daí embarcou para a Europa, a fim de tratar de negócios do seu ramo de atividade.
Conhecido pela postura séria e ética que sempre adotou na sua vida pessoal e profissional, José Carlos da Silva Júnior ingressou na política atendendo a apelos e estímulos de amigos. Ele figurou como companheiro de chapa de Wilson Braga, então campeão de votos, na eleição de 1982 em que Wilson derrotou por 151 mil sufrágios de diferença a chapa Antonio Mariz-Mário Silveira, do PMDB. Mariz desabafou que tinha sendo triturado pela máquina de corrupção dos governos federal e estadual, além da prefeitura de João Pessoa, que favoreceram o esquema do PDS-PFL a que Wilson era vinculado e com o qual Mariz rompera. O candidato do PMDB ao Senado, ex-governador Pedro Gondim, foi derrotado por Marcondes Gadelha, então concorrendo pelo PDS após ter deixado o PMDB. No plano nacional, Mariz denunciou casuísmos adotados pelo governo do general João Batista Figueiredo para prejudicar opositores, a exemplo da vinculação geral de votos, que obrigava o eleitor a votar em chapa completa. Como vice-governador, José Carlos assumiu várias vezes o governo, principalmente em momentos cruciais, como o assassinato do empresário e jornalista Paulo Brandão Cavalcanti, com 33 tiros de metralhadora.
José Carlos aceitou ser candidato em 86 pelo compromisso e responsabilidade social para com os destinos da população paraibana e também porque tinha ideias definidas sobre projetos para o desenvolvimento do Estado. Mas ele não se sentia à vontade na companhia de políticos fisiológicos que gravitavam em torno de Wilson Braga e relutou muito em aceitar ser candidato ao governo em 86, no que acabou sendo uma aventura passageira. O resultado das eleições de 86 acabou prejudicando as pretensões do esquema braguista. O senador Marcondes Gadelha foi indicado candidato a governador como substituto de José Carlos, mas teve pela frente um líder emergente, o ex-governador Tarcísio Burity, que concorreu pelo PMDB e obteve 296 mil votos de diferença sobre Marcondes. Por sua vez, Wilson Braga foi derrotado ao Senado num confronto que opôs dois candidatos competitivos do PMDB Humberto Lucena, postulando a reeleição, e Raimundo Lira, tratado como azarão, mas que conquistou a vaga atribuída a Wilson. Essa derrota de 86 abriu caminho para a hegemonia do então PMDB em sucessivas eleições diretas ao governo, promovendo a ascensão de nomes como Ronaldo Cunha Lima, Antônio Mariz e José Maranhão. José Carlos, posteriormente, voltou à militância política, figurando como suplente de Ronaldo Cunha Lima no Senado. Chegou a assumir a titularidade várias vezes, proferindo discursos fundamentados sobre a conjuntura econômica nordestina e brasileira. Encerrou aí sua relação de envolvimento com a política, voltando-se para as atividades empresariais.
Nonato Guedes