Atribui-se a um ex-prefeito de João Pessoa a seguinte definição sobre a viabilidade de execução de obras com recursos públicos, dos cofres da municipalidade: Não levando (o dinheiro) para casa, dá para fazer obras. Cito o exemplo a propósito de uma iniciativa que parece insignificante mas que, na verdade, tem um conteúdo simbólico relevante, até mesmo pedagógico. Agora à tarde em Intermares o prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo, inaugura uma praça construída em tempo recorde, mediante parceria com a iniciativa privada e que já é considerada um primor, com equipamentos comunitários e de lazer. Postei fotos da praça em rede social e as reações foram de deslumbramento com a visão panorâmica da obra.
Conto isto porque a opinião pública sabe o que aconteceu em Cabedelo ultimamente, com a prisão e afastamento do prefeito Leto Viana, familiares, auxiliares e colaboradores ociosos que mamavam nas tetas do erário. O Ministério Público, no primeiro dia do estouro do escândalo, numa coletiva de imprensa, detalhou o esquema criminoso que fora montado para dilapidar os cofres públicos e, por via de consequência, favorecer o padrão de vida dos apaniguados da gestão decaída. A própria investidura de Leto na titularidade já foi decorrente de uma negociata com o prefeito renunciante, José de Lucena Filho, o Luceninha, bafejado com uma bolada para passar adiante o bastão da prefeitura. O clima foi de revolta e estupor por parte da população da cidade portuária, inclusive, devido à repercussão nacional, expressa em divulgação dos fatos apurados na TV Globo.
Uma das mais importantes cidades da Paraíba, com fontes de receita de fazer inveja a outros municípios do Estado e à própria Capital, João Pessoa, Cabedelo caiu, porém, na sina de maus administradores que visavam ao enriquecimento ilícito e não ao benefício da população. O esquema desbaratado na denominada Operação Xeque-Mate possuía tentáculos na Câmara de Vereadores da cidade portuária e junto a servidores comissionados da prefeitura e da Câmara, induzidos compulsoriamente a ratear salários ou vencimentos com o prefeito afastado e pessoas por ele indicadas como bastante procuradores da corrupção no município. A ação conjunta da Polícia Federal e do Ministério Público foi extremamente profilática e mereceu aplausos da sociedade, mas consumiu árdua tarefa de investigação que flagrou até radialistas fazendo o papel de pombo-correio no transporte de malas de dinheiro para agentes públicos e empresários atraídos pela perspectiva da água benta dos desclassificados a corrupção.
É essa erva daninha a corrupção o problema mais grave que o Brasil enfrenta atualmente nas diversas esferas do poder público. Antigamente, dizia-se em tom de blague que ou o Brasil acabava com a saúva ou a saúva acabava com o Brasil. A saúva foi emergencialmente posta fora de combate, mas deixou rastros que se amplificaram, de tal sorte que a corrupção deixou de ser epidêmica para converter-se num mal endêmico, incrustrado no organismo de expoentes da sociedade. A Paraíba já tinha experimentado manchete negativa no noticiário nacional com o escândalo na prefeitura de Bayeux, situada na região metropolitana de João Pessoa. O caso de Cabedelo teve maior repercussão em virtude da amplitude de que se revestiu e do caráter organizado do organograma da quadrilha que se encastelou nos cofres públicos para tomá-los de assalto.
A corrupção está sobejamente identificada como o problema mais grave da conjuntura brasileira, diante da sua proliferação constante, malgrado as iniciativas eficazes do Ministério Público, da Polícia Federal e de outras entidades incumbidas de fiscalizar a aplicação de recursos públicos. Quanto dinheiro não escoou pelo ralo da corrupção em meio a esquemas de falcatruas e dilapidação do erário, do pequeno município à Capital Federal, Brasília? E também é fato que a prática da corrupção não discrimina partidos políticos nem agentes tanto pode estar aninhada no PT do mensalão do petrolão como no PSDB também do mensalão e de outros escândalos que vieram a público graças ao grau de transparência que a sociedade passou a exercer.
As eleições deste ano deveriam servir como a oportunidade de ouro para que os assaltantes do dinheiro público fossem despejados da vida pública e, na sequência, punidos e recolhidos ao xilindró, que é o lugar de corrupto e de políticos inescrupulosos. Tem-se novamente a perspectiva de depuração do cenário da vida pública no Brasil. É certo que o cidadão comum está exausto de tanto tentar eliminar ou queimar os seus algozes. Mas não cabe afrouxar a vigilância ou a reação. Aos poucos, as mudanças vão acontecendo com gravidade, de tal modo que vai ficar difícil levar para casa o dinheiro que é destinado a obras e investimentos públicos.
Nonato Guedes