O ex-senador Cícero Lucena continua filiado aos quadros do PSDB mas não cogita, mais, disputar qualquer mandato político. Foi o que ele assegurou em conversa com este repórter após participar da solenidade de inauguração da Praça Jornalista Nelma Figueiredo, no final da tarde de ontem, em Intermares, em companhia da sua mulher, a ex-vice-governadora Lauremília Lucena. Cícero concluiu integralmente o mandato de senador para o qual fora eleito e ainda chegou a ser candidato a prefeito de João Pessoa, novamente, em 2012. Foi para o segundo turno contra Luciano Cartaxo, que foi reeleito e reeleito em 2016.
Não sou doido para continuar na política, afirmou Cícero, textualmente, quando indagado sobre eventuais pretensões. Ele deixou claro que teve a oportunidade de realizar ações positivas nos mandatos que exerceu, mas também disse que a política é muito desgastante, mencionando, de passagem, as denúncias que têm sido feitas contra figuras de expressão nacional, além das prisões de líderes como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Lucena lamentou a proliferação de escândalos envolvendo figuras políticas, salientando, porém, que não pretende entrar no mérito dos casos que estão em pauta no noticiário.
O ex-senador chegou a ser preso na Operação Confraria, que apurava supostas irregularidades em convênios e obras na prefeitura de João Pessoa. A detenção de Lucena foi para a prestação de esclarecimentos, numa época em que ele exercia a secretaria de Planejamento do Estado, no governo Cássio Cunha Lima, tendo pedido exoneração do cargo. Seu empenho, já como senador, passou a ser o de se defender de todas as acusações formuladas contra ele e Cícero chegou a garantir a jornalistas que havia saído inocentado em praticamente todos os processos instaurados. Insinuou, várias vezes, ter sido alvo de orquestração de adversários políticos na Paraíba.
Cícero está retomando atividades empresariais. Ele era atuante na construção civil, presidindo, inclusive, o sindicato dos empresários quando foi escolhido por Ronaldo Cunha Lima para ser seu companheiro de chapa nas eleições ao governo do Estado em 1990. Ambos eram filiados ao então PMDB, presidido pelo senador Humberto Lucena, e a atuação política de Cícero dava-se nos bastidores. Na campanha, uma vez homologado candidato a vice, foi para a linha de frente junto com Ronaldo. A chapa deu combate ao ex-governador Wilson Braga e a disputa se transferiu para o segundo turno, quando Ronaldo vitoriou, tendo o apoio do ex-candidato a governador João Agripino Neto, que concorrera pelo PRN, o partido nacionalmente lançado por Fernando Collor de Melo. Lucena não foi um vice decorativo. Lutou ao lado de Ronaldo para a reabertura do Paraiban, o banco de fomento do governo do Estado, cuja liquidação extrajudicial havia sido decretada pelo Banco Central na gestão de Collor.
Posteriormente, Cícero empalmou a titularidade do governo por dez meses, concluindo o mandato de Ronaldo Cunha Lima, que se desincompatibilizara para disputar uma cadeira no Senado. Lucena foi secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo Fernando Henrique Cardoso. Candidatou-se a prefeito de João Pessoa em 1996 e foi eleito, sendo reeleito no ano 2000. No Senado, para o qual se elegeu derrotando Ney Suassuna, foi primeiro-secretário da Mesa Diretora. Quando do rompimento de Ronaldo com o então governador José Maranhão, Cícero acompanhou Cunha Lima na filiação ao PSDB. No primeiro governo de Cássio Cunha Lima, sua esposa, Lauremília Lucena, foi vice-governadora, e na segunda gestão o próprio Cícero ocupou a secretaria de Planejamento. Ele se distanciou de Cássio em 2010 quando este firmou aliança para apoiar Ricardo Coutinho ao governo do Estado. Refizeram a convivência depois que Cunha Lima e Ricardo Coutinho se desentenderam e romperam. Durante o mandato de senador, Cícero teve uma atuação profícua, segundo analistas políticos do Sul do País, e explorou como principal bandeira a defesa dos interesses do Nordeste e, em particular, da Paraíba.
Nonato Guedes