Nascido em João Pessoa, mas com militância política forjada no Estado do Rio, o senador Lindbergh Farias volta a ficar na berlinda no noticiário político em face de acusações formuladas pela Procuradoria Geral da República de que teria sido favorecido financeiramente pela empreiteira OAS como recompensa por ter supostamente atuado na agilização de uma Medida Provisória de interesse da construtora, cuja vigência remanesce ao governo Dilma Rousseff. Farias, como de hábito, rebate a denúncia. Atribui tudo a uma orquestração decorrente do fato de ter se tornado um dos maiores defensores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, protestando quase diariamente contra a condenação a ele imposta e a pena de prisão que Lula cumpre na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Independente do mérito da acusação afinal, há carência de comprovação da veracidade e isto terá que ser elucidado tanto pelo parlamentar como pela instituição acusadora é fato indiscutível que Lindbergh Farias tem se projetado mais pela postura controversa que adota do que pela ação proativa que pudesse vir a ter como representante da população fluminense no Congresso. O parlamentar tem acumulado, invariavelmente, acusações na sua biografia algumas, mais remotas, tentando associá-lo a irregularidades quando foi prefeito, por duas vezes, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Enfrenta restrições políticas dentro do próprio PT, por não ser totalmente confiável (iniciou trajetória por outras siglas de esquerda). Enfim, foi derrotado ao governo do Rio em 2014 por Luiz Fernando Pezão, a despeito de contar com a simpatia declarada do ex-presidente Lula e o apoio da ex-presidente Dilma Rousseff, vítima de impeachment.
Não fosse seu temperamento mercurial, agitado, Lindbergh Farias poderia estar sendo mencionado, hoje, como um líder político emergente a nível nacional. Ou, se quiserem, como um líder promissor, em condições de ser expressão da renovação de quadros na política brasileira. Sua aparição nacional ocorreu quando era presidente da União Nacional dos Estudantes, a UNE, e comandou manifestações de rua pedindo o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, afinal concretizado em 92. Os liderados de Lindbergh eram chamados pela imprensa de cara-pintados, por pintarem o rosto com as cores da bandeira brasileira, numa simbologia que misturava patriotismo com cidadania e indignação. Collor foi deposto. Por ironia da história, reencontraram-se os dois, atuando como senadores, no metro quadrado do Congresso Nacional. E, por outra ironia da história, Lindbergh foi contra o impeachment de Dilma Rousseff, do PT, enquanto Collor foi ostensivamente favorável.
No que diz respeito à Paraíba, apenas serviu de berço para embalar Lindbergh quando veio ao mundo. No afã de catequizar os eleitores do Rio, ele travou embates no plenário do Senado contra o ex-senador Vital do Rêgo Filho a pretexto da partilha dos royalties decorrentes da extração do pré-sal, com Lindbergh reivindicando tudo para o Rio, por ser Estado produtor, e nada para a Paraíba. Poderia ter se poupado de posição mais radical nessa matéria, em respeito à população do nosso Estado. Mas a cobiça pelos votos dos fluminenses embaçou seu cérebro. Perdeu a lucidez e a grandeza, como continua perdendo esses valores em outros episódios da sua trajetória. Uma lástima, por óbvio!
Nonato Guedes