O líder político paraibano Ruy Carneiro, nascido em Pombal, foi recordista de mandatos como senador, tendo exercido, ainda, o governo do Estado, num período em que os governadores eram chamados de interventores. De temperamento moderado e linhagem populista não agressiva, Ruy derrotou rolos compressores montados por máquinas governistas para derrotá-lo. Em 1974, o MDB, partido que fazia oposição ao regime militar, crescia como pão-de-ló no país e obteve a proeza de eleger 16 senadores, acendendo luzes vermelhas no Planalto. Ruy era um dos vitoriosos.
No livro intitulado As 16 derrotas que abalaram o Brasil, o jornalista Sebastião Nery não economiza referências à liderança de Ruy, cuja práxis política incluía elementos religiosos. Coube a Ruy instituir a romaria de políticos ao Vale do Piancó, no interior do Estado, anualmente, durante a festa de Santo Antônio. No intervalo dos ofícios religiosos e das bênçãos, são celebradas alianças ou firmados pactos para casamento uns, depois, se concretizam, outros, não. Invariavelmente Ruy estava lá na igreja Matriz de Piancó, tradição que passou a ser seguida por seu sobrinho, o médico Carneiro Arnaud, que foi deputado federal e prefeito de João Pessoa.
Numa das polêmicas sobre quem ganharia eleições ao Senado na Paraíba, com projeções favorecendo o candidato da Arena, Aluízio Campos, Ruy Carneiro cunhou expressão lapidar que virou anátema para os situacionistas: Eu sei que a Arena, na Paraíba, é um partido mais forte que o MDB. Mas muito mais forte do que a Arena e o MDB é o povo. E quem elege não é partido, é povo. A sentença virou mantra. Como Ruy tinha o povo ao seu lado, ganhou as eleições, sem gastar os bilhões de Aluízio nem a garganta rouca de Ernani Sátyro, que perdeu em Patos, sua própria terra. Ruy era um político das antigas, como se costuma dizer na Paraíba.
Em janeiro de 1947, já lá estava ele, como cabeça de chapa estadual do PSD. Desde então, não saiu mais do Senado. Em 58, 66, 74, cravou vitórias na sua biografia. Sebastião Nery chegou a sugerir: Um dia, quando ele sair, pode-se cunhar em bronze uma placa no Senado: Aqui viveu meio século um homem que acreditava na força do povo. Como dirigente partidário, Ruy era um conciliador nato. Administrava, também, com habilidade, pretensões familiares que, em certas ocasiões, prejudicavam composições mais amplas. É dele a frase: Família é instituição divina; se não fosse, ninguém suportava. Ele concluiu o curso de Direito na tradicional Faculdade do Recife, em 1927. Pretendia ser médico, acabou ingressando na política.
Em ensaio publicado no jornal A União, o desembargador Raphael Carneiro Arnaud, já falecido, destacava três aspectos marcantes na personalidade e liderança de Ruy: o aspecto social, o caráter humanitário no campo administrativo e o liberalismo no campo político. Ele faleceu em 20 de julho de 1977. A devoção religiosa era tão profunda que certa vez estava no exterior, em missão do Senado, mas regressou antecipadamente para poder se encontrar no dia 13 de junho na cidade de Piancó, assistindo à missa pela manhã e à tarde acompanhando a procissão, inclusive, carregando o andor pelas ruas da cidade. Sabia administrar sem arrogância e possuía uma outra qualidade a lealdade aos amigos. Mas, acima de tudo, Ruy era identificado como homem do povo, em cujo meio ele se sentia à vontade, como se fosse o seu habitat.
Nonato Guedes