O maniqueísmo político-ideológico que grassa no Brasil desde alguns tempos, mais precisamente quando se travou a batalha em torno do impeachment de Dilma Rousseff na presidência da República, não dá sinais de que vá arrefecer tão cedo, até porque os que estão porfiando em debates públicos ou em redes sociais, salvo algumas exceções, não se nutrem de argumentos para rebater premissas ou até preconceitos, vá lá, arraigados. O que se quer é ganhar no grito ou na mentira, rotulando negativamente contendores para satanizá-los perante segmentos da opinião pública que estão sinceramente interessados num confronto de alto nível.
Sei que é difícil cobrar alto nível num país que ultimamente foi tomado por episódios até teratológicos, como a descoberta, pela polícia, de dólares nas cuecas de mensaleiros e outros artifícios de baixo calão que não denotam criatividade denotam a mais absoluta mediocridade. Já não quero mais falar de amizades desfeitas, em ambientes sociais ou nas redes, com cidadãos comuns tomando o lugar de políticos incriminados em corrupção passiva, lavagem de dinheiro, etc, etc. Essas pessoas que radicalizam na confrontação nunca foram democratas na essência. São incapazes de conviver com o contraditório. Mais do que o argumento, falta-lhe o fosfato para elaborar teorias que comovam minimamente interlocutores que estejam na outra margem do rio.
Já foi dito que ninguém atravessa o Rubicão sem molhar os pés. Muitos dos polemistas de hoje nas redes sociais atuam como espécie de alter-ego de políticos que estão presos porque roubaram os cofres públicos. Tais porta-vozes querem ficar em paz com suas consciências emprestando solidariedade a quem está por trás das grades. É uma nova e estranha forma de solidariedade que se vem disseminando neste país de Mãe Preta e Pai João. Os ventríloquos de figuras como o ex-presidente Lula, ativos nas redes sociais, querem mesmo é confundir a sociedade, desmoralizar as instituições e, se possível, tumultuar as eleições que estão se aproximando e das quais Lula dificilmente participará, etpur cause, uma vez que está na marca da ficha suja, que como se sabe torna inelegíveis aqueles que rasgaram ética e boa conduta.
A tragédia do PT é para ser lamentada porque constitui, realmente, o fim de mais uma utopia, numa nação em que somos carentes desses amuletos, ainda que falsificados, para que possamos encontrar alguma razão de viver. Mas se é lamentável a tragédia petista, comparada com princípios que nortearam o seu nascedouro, também é certo, para os lúcidos e desapaixonados, que essa catarse vivenciada por petistas, inclusive pelo líder-mor Luiz Inácio Lula da Silva, é profilática, portanto, indispensável, para o partido tentar sobreviver em bases honestas.
Fala-se que a democracia correu riscos no Brasil quando do impeachment de Dilma Rousseff. Não é assim que a banda toca que fique claro para os néscios e desprovidos de fosfato, cujo ofício é o de tentar queimar quem ousa discordar. A democracia está correndo riscos agora, nesse enfrentamento patético em redes sociais ou em outros meios de comunicação, quebrando-se a unidade cívica do país por dá cá aquela palha, por motivos fúteis, por teorias equivocadas ou pelo prazer do sadomasoquismo que acomete alguns expoentes da cena. Não quero sair do Brasil. Quero lutar aqui dentro por um Brasil melhor, para todos e para todas. Quem não tiver bagagem para debater em alto nível não estava preparado para a democracia. É isto o que os pseudodemocratas não querem enxergar. Ou, melhor, até enxergam. Mas não admitem. Preferem enganar-se a si próprios, o que é uma escolha, no mínimo, atípica. Precisamos voltar a dialogar, mas em atmosfera de respeito, não de agressão.
Nonato Guedes