A indefinição sobre uma provável candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto, devido à sua condenação, prisão e ameaça de constar como ficha suja no rol de pretendentes, está deixando a esquerda desorientada e já levou, pelo menos, uma pré-candidata a presidente da República a desistir do páreo: a deputada estadual Manuela DAvilla, do PCdoB do Rio Grande do Sul. As versões são de que ela estaria apostando no registro da candidatura de Lula pelo TSE, mediante pressão popular, e na expectativa de vir a ser candidata a vice-presidente em aliança com o PT.
Lula, antes de ser preso há 100 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, havia feito acenos a Manuela quanto a uma união do PCdoB e PT no segundo turno da eleição presidencial, com ele polarizando a disputa. Os acenos ocorreram quando Manuela foi indicada, preliminarmente, em congresso do PCdoB, para ser pré-candidata. Outros expoentes petistas também saudaram Manuela, numa estratégia para abrir portas sobre composições num segundo turno. A desistência de Manuela teria a ver, também, com sua baixa cotação em pesquisas de opinião pública. Mas fontes do PT nacional insinuam, em off, que o PCdoB teme ser esmagado pelo PT na disputa presidencial, com Lula preso ou não.
A esquerda, de um modo geral, está desorientada quanto à hipótese de candidatura de Lula e começa a se dividir a respeito da aposta nessa candidatura. Um exemplo é o do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), defensor intransigente de Lula, que já admitiu a hipótese de exame de outras opções, evitando-se que a tática seja a de investir exclusivamente em Lula. Uma outra preocupação que começa a se dar no âmbito de legendas de esquerda ou de oposição diz respeito à ameaça da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), de realização de um boicote às eleições presidenciais se Lula não puder ser candidato. O que se avalia, em outros partidos, é que a tática de Gleisi pode conduzir a oposição/esquerda a um suicídio político-eleitoral, diante de problemas legais que podem vir a ser enfrentados, com isto prejudicando o fortalecimento de bancadas das outras agremiações.
Um outro problema é que Gleisi não é confiável nem mesmo a correntes do Partido dos Trabalhadores. Junto a alguns segmentos, ela ganhou o apelido de Maria Louca e a incriminação de Hoffmann em processos por lavagem de dinheiro assusta os próprios petistas. Exemplo concreto da falta de sintonia entre Gleisi e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que, enquanto ela prega o boicote às eleições sem Lula, o próprio Lula tem insistido em costurar a candidatura do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, como seu substituto no páreo. Haddad foi constituído, inclusive, advogado de Lula nos processos a que responde, para poder ter mais acesso ao ex-presidente e conversarem sobre política. O ex-prefeito foi também ministro da Educação em gestões petistas e é da extrema confiança de Lula. Desse ponto de vista, conforme análises que vazaram de dentro do próprio PT, Gleisi estaria fazendo papel de inocente útil enquanto Lula, mesmo na prisão, articula os passos que o PT vai dar daqui para a frente, inclusive, quanto ao seu destino.
Nonato Guedes