O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), caiu na real, como diz o jargão popular e abriu-se para a possibilidade de exame, pelo partido, de outras opções de apoio na corrida presidencial. Até então, Ricardo parecia inflexível no desejo de subir em palanque ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sustentou a tese da viabilidade da candidatura do petista, batendo de frente com evidências que sinalizam processos em curso contra Lula, uma condenação de 12 anos de prisão e a perspectiva da inelegibilidade pelo enquadramento dele como ficha suja, ainda que venha a ser posto em liberdade ou bafejado pela prisão domiciliar, como está sendo cogitado.
O presidente nacional do Partido Socialista, Carlos Siqueira, já admitiu que a agremiação trabalha com outras variantes no jogo sucessório, atenta aos prazos legais que estão transcorrendo com agilidade. Já está decidido que o PSB não terá candidato próprio ao Palácio do Planalto não preparou quadros para tanto desde a morte do jovem governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Apostou todas as fichas no neto de Miguel Arraes, sem levar em conta o imponderável, que se materializou no acidente aéreo em São Paulo, ceifando a vida de uma das mais promissoras lideranças do cenário nacional. A viúva de Campos, que poderia capitalizar reflexo psicológico provocado pela morte deste, não demonstrou apetite político, de modo que foi descartada de plano.
A espera por Lula, enquanto isso, começou a produzir uma sensação desgastante nas fileiras do Partido Socialista. A própria cúpula nacional do PT, presidida pela senadora paranense Gleisi Hoffmann, não oferece garantias de que Lula possa vir a ser registrado como postulante. O PT prepara-se mesmo para lançar Fernando Haddad, que é o preferido de Lula, que é quem manda no partido e é a estrela maior. Lula entraria no circuito como o grande cabo eleitoral, incumbido de reproduzir a façanha de 2010 quando prometeu eleger um poste, aludindo, de forma machista, a Dilma Rousseff. E elegeu. E depois reelegeu. E é favorito nas pesquisas de intenção de voto para o pleito deste ano, conforme atestam os institutos especializados de opinião pública.
Observadas as condições atuais de temperatura e pressão, o engajamento de Lula na campanha presidencial se daria de forma subliminar ou indireta, na base da gravação de depoimentos de apoio a uma candidatura petista, dentro da cela da Polícia Federal em Curitiba, onde está recolhido. Como coroamento da estratégia pensada, Lula faria, em tom inflamado, a narrativa do enredo do golpe contra Dilma, alusão ao impeachment que ela sofreu, acusada de pedaladas fiscais e de prática de outras irregularidades. Preso ou solto, Lula estará na campanha, avisou Gleisi, de nariz empinado, num recado com muitos destinatários.
Do seu canto, na Paraíba, o governador Ricardo Coutinho tem acompanhado essa movimentação toda em torno de Lula e decretou, motu próprio, que é hora de virar o disco e deixar de cantar um samba de uma nota só. De mente arejada, mantendo elogios a Lula, o gestor paraibano agora assevera: Eu apoio quem o meu partido decidir. A Paraíba não é só Ricardo e vai tomar uma posição diante do que for decidido pelo diretório nacional. Sem tirar nem pôr, está aí, firmado, o perfil do girassol Ricardo Coutinho para a peleja presidencial deste ano. Há momentos, em política, como na vida, em que não dá para brigar com fatos. Coutinho sabe dos riscos a que se expõe se insistir numa postura quixotesca. Não vai insistir, anotem!
Nonato Guedes