Neto do ex-governador da Paraíba João Agripino Filho, um dos mais sérios homens públicos que pontificaram no cenário local e nacional, o deputado estadual Gervásio Maia Filho, presidente da Assembleia Legislativa, prepara-se para disputar mandato à Câmara Federal e postou, em rede social, reprodução de um cartaz da campanha de 1982, em que JA postulou seu último cargo eletivo e cuja legenda apelava ao eleitor: Lembre-se de quem nunca esqueceu você. Ao se candidatar a deputado federal, Agripino quebrou um jejum de mais de dez anos na militância política. Sua legenda passara a ser o PMDB depois de rápida incursão pelo PP de Tancredo Neves. Agripino voltava à cena cheio de esperanças e disposto a reviver na tribuna o brilho de décadas passadas quando era um combativo parlamentar da UDN.
Eleito com quase 80 mil votos a deputado federal em 82, a lua de mel de Agripino com o Congresso durou pouco. Aos 72 anos de idade, enfrentando problemas de saúde, ele me confessou, numa entrevista para a revista A Carta, de agosto de 1986, que se arrependera do retorno a uma Casa onde atuou com desenvoltura. O Parlamento de hoje não é o mesmo do passado, confessou, nostálgico, exemplificando que a maioria dos parlamentares pensava mais nos interesses pessoais do que no trabalho para o qual foram eleitos. Reconheceu que o esvaziamento foi causado, em grande parte, pela ditadura militar, que destruiu os líderes e desestimulou os homens de bem a participar do Congresso.
Às vezes, sentia-se sozinho num plenário imenso. Voltou a Brasília esperando reencontrar velhos companheiros e um terreno fértil para atuar politicamente. Viu caras novas e desconhecidas, decepcionou-se com o ritmo da atividade parlamentar e com as limitações enfrentadas pela classe política para cumprir seu papel. Acostumado a um estilo combativo, Agripino lamentava não ter havido grande renovação no Parlamento e temia que não se instaurasse no país uma Constituição que representasse as aspirações populares. Hoje, na Câmara, há poucos homens capazes de participar da elaboração de uma Constituição, desabafou o velho guerreiro, com conhecimento de causa. Afinal, ele fizera sua estreia política na Constituinte de 45, quando trocou a banca de advocacia em Catolé do Rocha por um mandato popular, passando a se tornar personagem de alguns dos principais acontecimentos políticos no seu Estado e no país.
Da sua passagem pela vida pública, as melhores recordações vinham do Executivo. Como legislador, a gente trabalha um mês, se cansa, faz um projeto, aprimora uma lei e no final não sabe como ela será executada e se será executada. No Executivo, a gente decide, sabe o que quer e o que vai fazer. Lembrava que governou a Paraíba no tempo da ditadura e, mesmo assim respeitou a liberdade de expressão, sem nunca ter perseguido jornalistas. Achava que, em termos administrativos, realizou o que era fundamental para a Paraíba. E que voltar ao governo seria um desastre, pois todos iriam esperar milagres do seu governo.
Essas lições o jovem deputado Gervásio Maia Filho sabe de cor e salteado, de tanto beber na fonte, nas conversas dentro de casa com o oráculo político. O que admira em Gervasinho é a disposição para dar esse salto na sua trajetória, mas ele já provou que é afeito a desafios e sua gestão no comando da Assembleia tem sido exemplar. Gervásio Filho pode dar contribuição relevante à Câmara Federal. É sangue novo, está antenado com a voz rouca das ruas. E tem disposição para colocar em prática os ideais que acalenta. Terá que fazer um bom mandato, até para honrar o legado do avô, João Agripino, e do pai, Gervásio Bonavides Maia, que também foi presidente do Legislativo estadual.
Nonato Guedes