Em agosto de 2001, o então deputado José Dirceu, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, esteve em João Pessoa para sondar o terreno sobre a organização do PT e arrebanhar adeptos para empalmarem a bandeira da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente, acenando com chances de vitória, em 2002. O primeiro mandato conquistado por Lula foi justamente naquele ano. E em 2001, numa entrevista para os extintos jornais O Norte e Diário da Borborema, de que participei, Zé Dirceu foi profético: O PT não pode governar sozinho, precisa de alianças.
Era um diagnóstico realista e pragmático. O PT, no nascedouro, era uma agremiação xiita, radical, que tentava rotular-se como quimicamente pura, em contraposição a partidos tradicionais remanescentes de épocas anteriores. Por conta dessa obsessão pela pureza, o Partido dos Trabalhadores vetou filiações e alianças com quadros importantes em Estados como a Paraíba aqui, entraram no guante petista nomes de expressão como Marcondes Gadelha, Antônio Mariz e Lúcia Braga. A Marcondes foi dito que ele era burguês, por descender de família proprietária de usina de algodão na cidade de Sousa. Gadelha também ouviu que não sabia o que era trabalhador por nunca ter envergado macacão de operário ou de metalúrgico.
E, no entanto, Gadelha, como expoente do grupo autêntico do MDB, que combateu sistematicamente a ditadura militar, foi um arauto das liberdades públicas e fez discursos na Câmara denunciando torturas e outras violações dos direitos humanos. Não é demais dizer que sua cabeça esteve próxima da guilhotina, nas reuniões do Alto Comando Militar onde eram sacramentadas as cassações de mandatos. Marcondes se expôs, inclusive, por simpatizantes do PT que estavam atrás das grades por suas convicções e posturas políticas. Mas, para os petistas, isso não valia nada. Era Lana Caprina.
Antônio Mariz tinha um histórico de político reformista. Não era comunista, como, de resto, o próprio Lula confessou numa das primeiras entrevistas que nunca fora comunista. Militando na Arena, partido que dava apoio aos militares, Mariz discrepou da cartilha que lhe foi repassada e passou a integrar um denominado grupo renovador, que preconizava mudanças dentro do regime. Havia sido deposto da prefeitura de Sousa, por injunções políticas locais. E foi por causa dessas injunções, que o opunham aos Gadelha, que ele se alistou na Arena. Não havia outra escolha na época o país fora condenado ao bipartidarismo, com o MDB e a Arena. O fato é que, na Paraíba, o PT mantinha-se numa redoma. Porque era puro. Ou parecia ser puro.
Deu-se que com a perspectiva concreta de empalmar o poder, coube a Zé Dirceu, o tarefeiro-mor do PT, enquadrar as correntes ditas radicais, de sorte a não prejudicarem as tratativas de composição para lastrear a vitória de Lula e, sobretudo, garantir a chamada governabilidade. Zé Dirceu, nessa entrevista que guardo nos meus arquivos, foi enfático: A democracia tem um preço. O poder público é que deve financiar a campanha. Bons tempos aqueles, hein, Zé?
Nonato Guedes