A revista Época destaca em sua última edição uma radiografia sobre o perfil de políticos que pleiteiam a presidência da República, dissecado por Olga Curado, uma profissional que se especializou em treinar candidatos como Luiz Inácio Lula da Silva, Aécio Neves, Dilma Rousseff e outros, para a participação em debates durante campanhas eleitorais. O dado novo é que ela, agora, está fugindo dos políticos, mas não se furta de palpitar sobre eles, sem necessariamente revelar em quem vai votar. Olga integra, teoricamente, o contingente de indecisos para uma eleição em que o favorito está na cadeia.
De todos os candidatos que estão postos como opção, Olga não tem dúvidas em afirmar que Jair Bolsonaro é o mais perigoso, não pela questão ideológica, mas pelo despreparo. As pessoas despreparadas, ignorantes, começam a servir propósitos que elas desconhecem. Ter um líder que pode ser usado por seu desconhecimento é muito preocupante, afirma essa espécie de psicóloga do poder. Indagada sobre se o ex-presidente Lula teria capacidade de transferir carisma para outro candidato, Olga reagiu: Carisma não é transferível, mas voto é. Diz que Lula é um grande comunicador e que tem gente que vai votar em quem ele mandar. O petista também seria favorecido pela polarização dos discursos, e, com a sua prisão, existe a martirização de imagem, uma vitimização que mantém a força dele.
Qual foi o candidato mais difícil com quem trabalhou?, indagou a revista. Resposta de Olga Curado: A Dilma (Rousseff) porque tem um temperamento forte e não possui talentos naturais para relacionamento. Foi difícil trabalhar a exposição pública dela. É uma pessoa muito ciosa do que gosta e do que quer, o que a torna pouco flexível às propostas. Olga revela ter consumido quatro longos meses para preparar Dilma para a primeira eleição, em 2010. Precisei trabalhar a dificuldade de organização do discurso, que é associada a uma visão de ser criticado por todo mundo. Por causa disso, você começa a desenvolver pensamentos complicados para mostrar que está certo e se torna incompreensível. Foi preciso limpar o raciocínio, explicou.
Ela nega que durante a preparação de Dilma na campanha de 2010 tenha chegado a dar um tapa no rosto da então candidata. Às vezes, usando a técnica do aikido, seguramos o pulso, o braço, damos um empurrão. Até acontece de a pessoa cair no chão e rolar, mas esse não foi o caso dela, relatou. Os maiores pecados comportamentais de um candidato, a seu ver, são a arrogância, vaidade e desonestidade. Isso torna difícil que o candidato tenha uma liderança confiável. Se é arrogante, ele coloca em si um poder que não tem. Se é vaidoso, coloca em si uma capacidade que não é dele. Se mente, é capaz de qualquer coisa. Indagada sobre se é possível conter a intempestividade de Ciro Gomes, disse: É possível a partir da consciência dele. A impulsividade tem a ver com o perfil de alguém que sempre esteve acostumado a ver suas vontades serem prontamente atendidas e se torna impaciente quando isso não ocorre na velocidade e na forma que desejaria. Por último, Olga Curado opina sobre Geraldo Alckmin, candidato do PSDB: Ele não abre a boca, fala travado, não passa entusiasmo. Não tem gestos amplos, não abraça. Ele é tenso e passa imagem de que não confia em ninguém, está sempre na retranca. O Alckmin tem de soltar a franga, rir mais, se aproximar das pessoas. Ele é mais picolé do que chuchu.
Nonato Guedes