Embora o pré-candidato a presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) jacte-se de não precisar de marqueteiro alegando que dispõe apenas de sete segundos de TV, desde maio sua pré-campanha conta com os serviços de uma empresa de comunicação especializada em eleições: a agência 9 ideia, de João Pessoa, na Paraíba, dirigida por Lucas Salles, de 55 anos. Ele é destaque na recente edição da revista Veja estava preparado para fazer a campanha de Julio Lossio, candidato da Rede ao governo de Pernambuco, até que recebeu o convite para trabalhar para Bolsonaro.
Em entrevista ao repórter Gabriel Castro, da sucursal de Veja, em Brasília, Salles diz que escolheu o mote da campanha, produziu o jingle e está bolando a estratégia para aproveitar de maneira surpreendente os dois programas diários de TV de três segundos e meio de duração, cada um. Ele, porém, faz uma ressalva: não é marqueteiro, cujo termo abomina. Usa-se marquetólogo, explica.
A entrevista de Salles à Veja:
Como o senhor foi para a campanha de Bolsonaro?
Fui levado a Brasília pelo Julian Lemos, vice-presidente do PSL, há cerca de dois meses. No gabinete, logo que me sentei, o deputado Bolsonaro perguntou: Você está preparado para a missão?. Respondi que estava absolutamente preparado para trabalhar em uma campanha presidencial. Disse isso por causa da minha história. Venho trabalhando com vereador, deputado estadual, federal, prefeito e governador. Eu me sinto preparado para o desafio.
Não é curioso trabalhar para um candidato que diz não precisar de marqueteiro?
Ele me disse que não gosta de marqueteiros. Eu respondi: Somos dois. Não sou marqueteiro. Estou há anos trabalhando para desconstruir esse termo, que é pejorativo. Usam-se marquetólogo, profissional de marketing ou consultor político. O marketing é ciência. A gente faz análise do cenário, das propostas, do candidato, do programa de governo. E equaciona a comunicação da forma mais verdadeira possível.
O que é preciso corrigir no candidato Bolsonaro?
Não vou mudar nada, não vou fazer nenhuma perfumaria. Ele será apresentado em sua essência. Uma das coisas que ele me disse foi: Eu não quero que me mude. As pessoas buscam essa autenticidade. Quem tentar mexer com isso não vai conseguir e ele não vai aceitar porque chegou aonde está assim.
Qual será o mote da campanha?
Nas nossas conversas, ele falava muito de verdade. Então, nós chegamos a Muda Brasil de verdade, que já usamos na convenção. O jingle traz o mesmo conceito. Tem gente trabalhando o tempo todo para desconstruir a imagem dele. Nosso trabalho vai ser apresentar Bolsonaro e repor a verdade.
Ele precisa moderar o linguajar?
Essa é uma decisão pessoal dele. O Bolsonaro já foi assimilado pelo povo brasileiro. Cada vez mais, as pessoas compreendem que ele é verdadeiro, fala o que pensa e não mede as palavras. É tudo muito natural.
O que dá para fazer em três segundos de TV?
Não posso falar da estratégia. Por enquanto é sigilosa. Mas vamos otimizar o tempo de forma mais criativa possível. As novas regras favorecem quem se posicionou mais cedo. Há alguns anos, cerca de 70% do eleitorado decidiam o voto com base na propaganda eleitoral na TV. Hoje, fala-se em 30%. As redes sociais serão muito importantes.
Quanto vai custar o marquetólogo do Bolsonaro?
Não tenho essa resposta. A gente vai trabalhar com os recursos disponíveis. Fui criado na adversidade, no Nordeste. Aqui tudo é mais difícil. Isso nos estimula a trabalhar mais o lado da inovação e da criatividade.
Qual o tamanho da sua equipe?
Eram dezesseis pessoas. Duas pediram demissão quando começamos a trabalhar com Bolsonaro. Alegaram desconforto.
Nonato Guedes, com Veja