O governador Ricardo Coutinho, que se antecipou na Paraíba à resolução nacional de composição entre PSB e PT nas próximas eleições, aproveitou o lançamento da pré-candidatura do deputado federal Luiz Couto ao Senado para retomar o discurso de esquerda que foi a sua tônica predileta desde o início da trajetória política, de vereador a deputado, passando pela prefeitura da Capital e governo do Estado. No decorrer da sua trajetória, Ricardo teve que fazer concessões estratégicas para sobreviver politicamente e consolidar seu espaço de liderança. Foi assim que se compôs com Cássio Cunha Lima, do PSDB, e com Efraim Morais, do Democratas. Manteve legendas de esquerda como o PPS no seu arco político e sempre cortejou uma reaproximação com o PT, o que se refletiu na iniciativa de promover a vinda do ex-presidente Lula da Silva e da ex-presidente Dilma Rousseff ao Estado, quando ambos passavam a mergulhar no ostracismo.
Os movimentos de Ricardo nem sempre são lineares, devido a fatores que independem da sua vontade ou interferência. Ele acolheu, por exemplo, nas fileiras do PSB, o deputado federal Veneziano Vital do Rêgo, que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff quando atuava no MDB. Foi mais além: lançou Veneziano como pré-candidato a uma das cadeiras ao Senado. No conceito dos petistas, Veneziano estava indexado como golpista. Mas, devido às bênçãos do governador a ele, o PT preferiu identificar em Veneziano outras virtudes, como a de ter se incompatibilizado com o MDB, sendo punido internamente, por ter votado a favor do recebimento de denúncias que instruiriam processo de impeachment do presidente Michel Temer. A atitude de Veneziano, nesse episódio, isolou-o no MDB e cortou-lhe as chances de figurar numa chapa majoritária. Ricardo resgatou-o da incerteza e fê-lo candidato ao Senado pelo PSB em dobradinha com…Luiz Couto. Que já passou a chamá-lo de companheiro.
Uma fonte política credenciada analisa que a defesa de Lula e a reaproximação com o PT paraibano criaram as condições para que o governador voltasse ao seio da esquerda, onde se sente mais à vontade. Numericamente, o PSB não ampliou suas forças e nem seu tempo de propaganda na campanha deste ano, mas Ricardo já deu o tom do discurso, ao enfatizar: Os golpistas estão lá, não estão aqui. Aqui estão os que têm projetos para a Paraíba, o que existe de melhor para o nosso Estado. O governador tentou mirar diretamente no senador Cássio Cunha Lima, seu ex-aliado, chamando-o de traidor da democracia e de conspirador contra os interesses da Paraíba. Derrapou, involuntariamente, nesse ponto, por ter atingido, em paralelo, aliados políticos que foram favoráveis ao impeachment da ex-presidente Dilma. A controvérsia, agora, é sobre se Ricardo tem potencial para transferir votos para João Azevedo e elegê-lo governador, o mesmo acontecendo com a chapa ao Senado, já formada por Luiz Couto e Veneziano Vital.
Nonato Guedes