Desde quando era um quadro político promissor, Antônio Mariz sempre figurou nas cogitações para disputar o governo do Estado. Ele fez três tentativas nesse sentido. Somente na última, logrou vitoriar, mas problemas de saúde decorrentes de um câncer abreviaram a sua gestão. Faleceu no dia 16 de setembro de 1995, às 18h, na Granja Santana, sob clima de grande comoção popular. Ficou gravada uma frase que Mariz proferiu, em leito de hospital, conversando com o ex-governador Ronaldo Cunha Lima: Quando tive saúde, perdi o governo. Quando perdi a saúde, ganhei o governo. Foi uma dura armadilha do destino. Mariz era fumante compulsivo e em busca de sobrevida percorreu corredores e leitos de hospital em São Paulo, deixando a Paraíba em suspense. Ficamos frustrados com sua morte, sentenciou o então arcebispo da Paraíba, dom José Maria Pires, também falecido, lembrando que Mariz criou expectativas alentadoras quanto a projetos e programas que pretendia colocar em prática. Seu foco era direcionado para os mais pobres- não por acaso, o slogan que adotou foi o de Governo da Solidariedade.
Prefeito de Sousa que chegou a ser deposto pelo regime militar implantado em 64, tendo reassumido o cargo em meio à ausência de provas que o comprometessem, Mariz projetou-se como deputado federal e como senador. Teve participação marcante na Assembleia Nacional Constituinte instalada em 1988 e que dotou o país da Constituição-Cidadã, como apregoou o deputado Ulysses Guimarães. Mariz recebeu nota dez no julgamento do Diap, Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar. Dom José destacava a empolgação de Mariz, depois de eleito em 95, pelo projeto de geração de renda e emprego como uma forma de devolver a cidadania à população paraibana. Na última entrevista coletiva à imprensa, concedida no dia 21 de agosto de 95, foi enfático: O que eu mais queria, mais quero, é ter um contato mais direto com o povo paraibano, ouvir as pessoas.
A primeira tentativa de Mariz em chegar ao governo da Paraíba deu-se em 1978, quando o processo de escolha era por via indireta. Embora pertencendo aos quadros da Arena, partido identificado com o regime militar, Mariz assumiu posições críticas e corajosas contra o denominado golpe. Concorreu em 78 como dissidente na convenção da legenda realizada na Assembleia Legislativa. Ele perdeu a batalha para Tarcísio Burity, que despontava como fenômeno do cenário local. Em virtude do gesto desassombrado, desafiando as ordens de Brasília, Mariz chegou a ser ameaçado de cassação do mandato, mas foi até o fim e fez um discurso eloquente e candente, recheado de restrições à ditadura. Em 1982, pelo voto direto, ele ingressou no PMDB e ganhou passaporte para ser candidato ao governo. Enfrentou um campeão de votos, Wilson Braga, do PDS, sucedâneo da Arena, e foi derrotado por 151 mil votos de diferença. Findas as eleições, Mariz denunciou a utilização de máquinas administrativas na campanha, com isto desequilibrando-se o páreo. Finalmente em 1994, tendo como vice José Maranhão, um peemedebista ortodoxo, Mariz, que tinha raízes políticas em Sousa e na Capital, ascendeu à Chefia do Executivo, derrotando a candidata Lúcia Braga. No âmbito parlamentar ele se destacou, ainda, como relator do processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Melo em 92. O circunstanciado relatório de Mariz foi pelo impeachment, e ele justificou que, mais do que indícios, havia provas de montagem no governo Collor de um poderoso esquema de corrupção comandado pelo ex-tesoureiro PC Farias. Um dos projetos polêmicos e corajosos que Mariz apresentou foi o que taxava grandes fortunas, um assunto ainda hoje recorrente no universo político. O ex-governador teve grandeza para se reconciliar com adversários políticos e foi assim que convidou Marcondes Gadelha para ser seu secretário de Agricultura. Entrou na História, também, por ter mandado destruir arabescos existentes no piso do Palácio da Redenção e que lembravam a opressão do regime nazista da Alemanha. Mariz confessou que se sentia mal sempre que se deparava com os arabescos. Ele não deixou herdeiros políticos, mas deixou uma legião de órfãos e viúvas da sua liderança política.
Nonato Guedes