Com a distensão política e a concessão de anistia a figuras punidas pelo regime militar no governo do general João Batista Figueiredo, o economista paraibano Celso Furtado, que lecionava em universidade de Paris, sentiu-se motivado a requerer a devolução do seu título de eleitor na Primeira Zona Eleitoral de João Pessoa. Aproveitando sua vinda à Paraíba para participar, a convite, de um seminário de debates sobre a realidade do Nordeste, promovido pelo Centro de Tecnologia da UFPB, Celso regularizou sua situação como eleitor disposto a contribuir para a discussão das questões políticas nacionais e locais. Sua candidatura ao governo do Estado foi lançada pelo deputado federal Octacílio Queiroz (PMDB), alegando que ele uniria as oposições e evitaria o personalismo entre os líderes oposicionistas. A sugestão teve o pronto endosso do deputado federal Marcondes Gadelha, que lutava no PMDB para evitar a candidatura de Antônio Mariz, seu adversário político na região de Sousa, Alto Sertão.
Celso, que foi ministro do Planejamento do governo de João Goulart, deposto pelos militares, e que teve seus direitos políticos cassados pelo golpe de 64, não se empolgou com a ideia de concorrer ao governo paraibano e até se irritou com questionamentos de jornalistas a respeito. Ele explicou: Sou uma pessoa que não tem carreira propriamente política, não me empenho em me eleger. Considero que faço um trabalho útil, político, de esclarecimento, por outros canais. Eu sou um intelectual. O economista, natural de Pombal, compareceu à Primeira Zona Eleitoral acompanhado por dirigentes do PMDB paraibano, que o convidaram a se filiar ao partido. O presidente em exercício do PMDB, Janson Guedes, informou que o ingresso de Celso Furtado na legenda estava praticamente acertado e deveria ocorrer tão logo ele retornasse da Europa em setembro de 1981. Intelectuais paraibanos como Ronald de Queiroz entusiasmaram-se com a possível participação de Celso Furtado na política paraibana, mas o projeto não prosperou. Em 82, quando foram restauradas eleições diretas de governadores, o PDS lançou candidato, na Paraíba, o então deputado Wilson Braga. Marcondes surpreendeu a todos, deixando o PMDB e ingressando no PDS, onde foi feito candidato a senador, vitorioso. Mariz fez o caminho inverso, candidatando-se a governador pelo PMDB. Foi derrotado por Braga, por 151 mil votos de diferença.
Marcondes Gadelha, quando integrou o grupo autêntico do MDB, que combatia a ditadura militar, se encontrou com Celso Furtado em Paris, no final do ano de 1971 e início de 1972. Ele queria conversar com Celso para obter dados e informações seguras sobre o regime brasileiro na área econômica, a fim de subsidiar sua atuação no grupo autêntico. Exilado em Paris, Celso lecionava na Faculdade de Rue dAssas, situada um pouco mais abaixo do Instituto onde Gadelha estudava. O ex-superintendente e fundador da Sudene vivia um clima de nervosismo e paranoia, suspeitando que estivesse sendo vigiado por agentes do regime militar brasileiro. Marcondes conseguiu se aproximar dele, informando-lhe que estava preparando uma tese sobre o Brasil e que considerava falsos os números oficiais do governo brasileiro. Acrescentou que precisava de números confiáveis e insinuou que Celso poderia fornecê-los. O economista, porém, foi ríspido. Disse a Gadelha que não tinha qualquer informação a lhe dar. Além do mais, os dados que recebo são da ONU, que, por sua vez, recebe do governo brasileiro. Se quiser esses dados, o senhor vá ali na esquina, onde há uma livraria da Cepal, e encontrará facilmente esse material. Aviso que esses dados também não são muito confiáveis…não tenho mais nada a lhe dizer. Até logo e passe bem, encerrou Furtado. A conclusão de Marcondes foi a de que Celso Furtado não tinha muita coisa a lhe dizer. Ele estava muito tenso,preocupado… Quanto à tese de participação de Celso na conjuntura política paraibana, nunca prosperou concretamente.
Nonato Guedes