O professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Francisco Jácome Sarmento, Doutor em Engenharia Civil, lançará nesta quinta-feira (09), na 25ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo (SP), ao meio dia, o livro Transposição do Rio São Francisco Os bastidores da maior obra hídrica da América Latina. Publicado pela conceituada editora portuguesa Chiado Books, o livro será lançado em João Pessoa no próximo dia 17, às17h30, no hall da Reitoria da UFPB.
Narrado em primeira pessoa, da perspectiva privilegiada de quem coordenou os Estudos de Planejamento de Engenharia de Recursos Hídricos da Transposição nos governos Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, o livro se constitui em um documento histórico testemunhal, não apenas da luta pela implantação do projeto nas três décadas que antecederam o início e desenrolar da obra física, mas, principalmente, das diferenças marcantes, percebidas pelo autor, de como o Nordeste brasileiro e suas peculiaridades, geográficas e humanas, foram trabalhadas pelos três presidentes da República. Nos referidos governos, o professor Sarmento também recebeu a missão de representar a esfera federal nos inúmeros eventos e debates que ocorreram no transcurso de décadas de polêmica em torno da Transposição do Rio São Francisco.
Ao contrário do que poderia se supor de um autor que ostenta os mais elevados títulos acadêmicos, o livro nada tem do tipicamente árido linguajar técnico. O conteúdo é extremamente acessível e didático, iniciando com explicações sobre o que é uma transposição de águas, esclarecendo porque a transposição do rio São Francisco se constitui na maior obra hídrica da América Latina e, sob certos critérios, se consagra como a maior obra hídrica das Américas, constando como uma dentre as cinco maiores do mundo.
No livro com quase 300 páginas, Sarmento comenta sobre os episódios mais relevantes que obstaram ou facilitaram a concretização do projeto até os dias atuais (2017), quando se deu a inauguração do Eixo Leste pelo presidente Temer e, sete dias depois, pelos ex-presidentes Lula e Dilma.
O livro é uma homenagem aos engenheiros envolvidos com o projeto da Transposição, mas reconheço a impossibilidade de separar a competência técnica da Engenharia brasileira da vontade política em realizar essa gigantesca obra. Assim, abordo também a decisiva dedicação de personagens políticos brasileiros que, direta ou indiretamente, tiveram a ver com o empreendimento, afirma Sarmento.
O autor classifica tais personagens políticos em pelo menos quatro grupos: 1- Aqueles que realmente tiveram papel decisivo na concretização da obra, como o ex-presidente Lula, seu vice José Alencar e o ex-ministro Ciro Gomes; 2 – Aqueles que, enquanto governantes em nível estadual ou como parlamentares federais nunca desistiram do projeto, a exemplo do ex-governador José Maranhão e do Deputado Federal Marcondes Gadelha, para mencionar apenas os paraibanos que o autor elenca nessa condição; 3 – Ex-ministros nordestinos, como Cícero Lucena (PB), Fernando Catão (PB), Aluízio Alves (RN) e Fernando Bezerra (RN), que tiveram a elaboração do projeto sob comando de suas pastas e muito se esforçaram para vê-lo concretizado, mas não puderam mobilizar, em prol da causa, o núcleo de poder central a que serviram e, por fim, 4 – Aqueles que nunca empreenderam nada de relevante pela Transposição, mas que tentaram, ao extremo, tirar proveito político da apoteótica inauguração da obra, ocorrida em março de 2017, em plena crise hídrica nordestina. Também fazem parte dessa história figuras políticas veementemente contrárias à Transposição, como o ex-ministro Geddel Vieira Lima e os então candidatos à presidência Aécio Neves e Marina Silva.
Entre os integrantes do meio artístico, o autor comenta sobre a determinação da cantora paraibana Elba Ramalho e dos atores globais Letícia Sabatella, Osmar Prado e Carlos Vereza, convertidos em ícones da luta impeditiva do projeto. Sarmento aborda ainda a divisão da Igreja Católica em torno da polêmica, que chegaria a demandar a intervenção do Vaticano, para interromper a greve de fome de um bispo da Bahia, em protesto contra o início das obras.
Não apenas pela qualidade da narrativa, mas, sobretudo, por se tratar de um registro histórico de alguém especializado que vivenciou os anos decisivos para um projeto de infraestrutura iniciado nos tempos do império, essa obra certamente passará a ser referência obrigatória para todos os interessados no assunto, além de fonte para se obter informações fidedignas da história do trato da União para com a região Nordeste do Brasil. E em seu último capítulo, o livro também aborda o futuro da Transposição, trazendo uma visão que não pode ser negligenciada pelos que hoje têm a responsabilidade de concluir e fazer funcionar essa obra portadora de futuro para 12 milhões de habitantes nos quatro Estados beneficiados pela interligação do Nordeste Setentrional com o Velho Chico.
O livro, prefaciado pelo jornalista paraibano Rubens Nóbrega, já se encontra disponível em papel e formato de e-book no site da editora.
Sobre o autor Francisco Jácome Sarmento é natural de Sousa (PB) e desde muito cedo teve a oportunidade de vivenciar a sede e demais agruras provocadas pela falta de água no sertão nordestino. Garantir o aceso da população à água de qualidade é seu objeto de estudo e prática desde a graduação em Engenharia Civil na UFPB, passando pelo Mestrado na Universidade do Ceará e doutorado na Universidade de Hannover, na Alemanha.
Além de pesquisador e professor universitário há 32 anos, com diversos trabalhos publicados no Brasil e no exterior, sua capacidade técnica o levou a elevados cargos públicos, desempenhando trabalhos históricos como coordenador de Engenharia de Recursos Hídricos da Transposição do Rio São Francisco junto ao Ministério da Integração Nacional (1997-2000), Chefe da Assessoria Técnica da Vice-Presidência da República (2003-2009), além de Secretário de Estado (PB) do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais (2000-2002), de Infraestrutura e de Ciência e Tecnologia (2009-2010).