Diferentemente do que aconteceu em 2010, quando disparou nos números e acabou provocando um segundo turno do qual não participou, a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, que disputa pela Rede as eleições presidenciais deste ano, é tida como uma candidata invisível. Reportagem de Aline Ribeiro na revista Época aborda as dificuldades e desafios de uma campanha sem tempo de TV, sem alianças e sem eventos importantes. Numa noite do começo de julho último, Marina chegou abatida a um ginásio de esportes de Contagem, Minas Gerais, para falar a uma plateia de cerca de 300 pessoas. Ao discursar, errou um nome chamou Alckmin de Almickin, trocou a idade de um correligionário (60 em vez de 70) e fundiu as palavras Deus e Jesus Jeus. A campanha nem bem começou e Marina já está cansada. Sem dinheiro, acorda às 4 horas da manhã para pegar um voo mais barato do dia e dorme de favor na casa de apoiadores quando viaja para compromissos, revela a matéria.
Em sua fala, Marina admitiu que esta será a mais difícil de suas três disputas pela Presidência da República. Em 2010, pelo menos eu tinha um minuto e vinte segundos de tempo na TV. Em 2014, dois minutos e 20 segundos. Agora vamos ter oito segundos. Oito segundinhos. Não dá nem para dizer bom dia direito, afirmou à plateia. Depois de listar os reveses, ela incorporou o otimismo e desafiou os presentes a dar início a uma transformação da política. Será a luta do tostão contra o milhão. De Davi contra Golias. Mas a gente só precisa de uma pedrinha certeira no 7 de outubro. A pedrinha é o voto consciente de cada um de vocês, disse, com dedo em riste e tom mais exaltado que o de costume. Houve quem se emocionasse.
A campanha presidencial deste ano, de fato, se prenuncia como a mais difícil da carreira política de Marina Silva, de 60 anos. Além da escassez de dinheiro, e de tempo, na propaganda pelo rádio e pela TV, ela tem um partido para chamar de seu, mas pequeno e sem uma rede de lideranças capaz de mobilizar eleitores em seu favor. Com essas condições, e numa disputa pulverizada entre mais candidatos, Marina precisará superar, acima de tudo, seu modo muito particular, um tanto invisível, quase inócuo, de fazer política. Enquanto Jair Bolsonaro lota aeroportos e arrasta multidões em eventos populares, Marina se restringe a lançamentos de pré-candidatos desconhecidos da Rede Sustentabilidade, o partido criado por ela, e palestras para plateias reduzidas. Para driblar a falta de tempo na TV, há duas semanas começou a fazer nas redes sociais uma espécie de horário pessoal gratuito ao vivo.
A reportagem de Época lembra que na campanha de 2014 Marina Silva viajava de jatinho alugado pelo PSB de Eduardo Campos e carregava pelo menos três profissionais de comunicação em cada agenda. Nesta campanha, Marina anda mais solitária. Ela foi de avião de carreira a Contagem, Minas Gerais, para o lançamento da candidatura ao Senado do missionário evangélico e ex-jogador de basquete Kaka Menezes. Estava acompanhada apenas de dois correligionários da Rede e de uma assessora política. Na manhã do evento, Marina havia passado, ela própria, num sacolão para comprar as frutas que comeria ao longo do dia. Deu entrevista para uma rádio, visitou uma escola, um asilo e um centro de reabilitação de viciados, e posou para foto ao lado de pré-candidatos mineiros da Rede. Um jingle feito para ela entoa: Seja bem-vinda, Marina, o Brasil precisa de gente que quer lutar. Seja bem-vinda, Marina, mulher que ensina, é fiel e que sabe amar. Parece o prenúncio do fim melancólico da carreira política de uma mulher que já foi tida como solução para os graves problemas do Brasil.
Nonato Guedes