A propósito da morte, ontem, do jornalista Nelson Coelho, houve quem postasse com aura de fatalismo: A velha guarda do jornalismo paraibano, como é inevitável, está indo embora. E lembrou que há poucos dias havíamos perdido Severino Ramos, um dos profissionais mais combativos e talentosos, que desafiou preconceitos e convenções sociais e se impôs numa sociedade elitista. Há jovens talentos que foram tragados pela correnteza indesejada, como a querida Nelma Figueiredo, flagrada pelo sopro de despedida na flor da idade e da pujança de profissionalismo que ostentava.
Quanto à velha guarda, que saudade danada! Dos textos primorosos, da riqueza de conteúdo e de formulação, da impetuosidade no trato da notícia. Severino Ramos, como já foi dito, constituiu-se no mais polêmico dos jornalistas paraibanos. Tinha tutano para tanto. Comprou brigas antológicas, de preferência com gente poderosa, que poderia pedir sua cabeça a donos de jornais, como foi feito, sendo ele poupado aqui e ali na fogueira de vaidades da inquisição tupiniquim, refratária ao seu estilo cortante de dizer as coisas. Nelson não ficou atrás, só que trilhando outros caminhos. Era assumidamente panfletário e passional quando tomava posições. Não gostava nem sabia ficar em cima do muro. Chamado à colação diante de certas controvérsias que agitavam a vida do Estado, alistava-se entre os primeiros para combater o bom combate.
Nelson nem sempre foi compreendido e sei de inúmeros episódios em que ele porfiou com poderosos de plantão em governos nos quais serviam juntos. O que ele não fazia era abaixar a cabeça, agachar-se por dá cá aquela palha, intimidar-se com arreganhos de autoridade que eventuais ocupantes do pudê exibiram em certas quadras da vida pública paraibana. Tendo atuado com o governador Pedro Gondim na década de 60, Nelson atravessou governos sucessivos, chegando-se ultimamente aos de Antônio Mariz e José Maranhão. Escrevia artigos com convicção nada que lhe violentasse as emoções ele admitia. E nesse desideratum costumava ir ao ferimento grave, evidentemente contrariando interesses, gerando inimizades gratuitas. Sem ceder um milímetro nos seus pontos de vista equivocados ou não. Era discípulo de jornalistas que formaram opinião no país, como Hélio Fernandes e Carlos Chagas ou Villas Bôas Corrêa, para citar alguns com quem teve linha direta, quer fosse na Paraíba, quer fosse no Rio ou em Brasília.
Tive para com Nelson Coelho uma dívida de gratidão imorredoura. Estava ele dando expediente como superintendente do jornal oficial A União quando soube que eu estava no limbo, submetido ao ostracismo por causa de questões políticas provincianas ou, em muitos casos, em virtude de queimação dos oportunistas mais ousados que conseguiam posições eventuais de mando na base da mistificação, até mesmo da mentira. Foi à casa da minha mãe, no Jardim Planalto, em João Pessoa, e de lá me arrastou para escrever coluna política…em A União, jornal de governo do qual eu fora editor e superintendente. A nímia gentileza do confrade abalou virtuais resistências que eu poderia opor ao colunismo político em jornal oficial. Mas logo achou de me encaixar em projeto mais consistente com meu perfil: a produção de entrevistas com personalidades da História recente da Paraíba, encartadas com destaque nas edições dominicais da velha Senhora. Nelson devolveu-me, nesse gesto, a vontade de voltar a escrever que eu havia perdido. Houve inúmeros outros episódios em que ele manifestou seu respeito e companheirismo com este escriba. Fico com o caso emblemático que citei. Porque de pessoas que a gente gosta como Nelson é conveniente guardar as boas recordações, do lado esquerdo do peito. É o que faço agora, no até breve a este companheiro leal e digno!
Nonato Guedes