O MDB registrou no Tribunal Regional Eleitoral com a denominação Porque O Povo Quer a coligação encabeçada, ao governo, pelo senador José Maranhão, tendo como vice o ex-secretário de Juventude Bruno Roberto, do PR e como um dos candidatos a senador o ex-governador Roberto Paulino. Com isso, o partido recria o slogan que, nas eleições de 1986, consagrou o ex-governador Tarcísio Burity para um novo mandato no Palácio da Redenção, concorrendo pelo então PMDB contra o ex-senador Marcondes Gadelha, do PFL, apoiado pela máquina braguista, chefiada pelo ex-governador Wilson Leite Braga.
Burity foi eleito com quase 300 mil votos de diferença sobre Gadelha. Ele ingressou no PMDB na undécima hora dos prazos legais, sem a certeza de que teria espaço para concorrer ao governo. Foi favorecido, contudo, por um atropelo problemas de saúde enfrentados pelo candidato natural, senador Humberto Lucena, que teve de ser internado no Incor, em São Paulo, nas vésperas da definição de chapas majoritárias. De São Paulo, mesmo, Humberto expediu proclamação aos paraibanos e paraibanas declinando da postulação ao governo, recomendando o nome de Burity como alternativa e anunciando que iria concorrer à reeleição ao Senado. Ele foi reeleito e teve como companheiro o empresário Raimundo Lira, atualmente senador pelo PSD.
As urnas em 86 confirmaram o fenômeno Burity e revelaram uma grande surpresa: a derrota de Wilson Braga ao Senado. O sistema político governista perdeu feio, depois de mais de 20 anosde reinado, não apenas nos grandes centros urbanos, mas, principalmente, nos redutos interioranos que eram a sua base de sustentação. Marcondes substituiu, de última hora, a candidatura do empresário José Carlos da Silva Júnior, ex-vice-governador, que renunciara junto com Braga, mas que renegou a candidatura ao governo diante de pressões e exigências para ser o trem-pagador de toda a campanha do PDS-PFL, bem como diante de indícios de que seria cristianizado no curso da disputa por lideranças vinculadas ao esquema braguista. Em novembro de 1986, a revista A Carta, editada pelo falecido jornalista Josélio Gondim, estampou em matéria de capa: O Povo Quis, numa alusão à vitória de Burity, que já se desenhava na marcha das apurações.
O resultado eleitoral marcou o retorno de Burity ao Palácio ele havia sido governador, pela primeira vez, por via indireta, em 78, tendo sido o tertius escolhido pelo regime militar diante de impasse entre as candidaturas de Antônio Mariz e Milton Cabral. Mariz resolveu enfrentar Burity em convenção do PDS, mas todo o esquema foi mobilizado para derrotá-lo, o que aconteceu. Em 82, Burity que deixara o governo com altos índices de popularidade foi eleito deputado federal. Em 86, concluiu sua passagem pela política ganhando a disputa ao governo contra Marcondes. Braga e Marcondes atribuíram, também, o resultado eleitoral, aos reflexos do Plano Cruzado, que decretou congelamento de preços no governo de José Sarney e colateralmente beneficiou candidatos do PMDB em diversos outros Estados do país. Mas, a nível local, os observadores avaliaram que o carisma de Burity teve papel preponderante no desfecho das urnas. Quanto à reedição do slogan Porque o Povo Quer na campanha de José Maranhão este ano, um assessor do candidato resume em tom de blague: É um slogan que dá sorte. Maranhão enfrenta como principais adversários este ano Lucélio Cartaxo, do PV, e João Azevedo, do PSB.
Nonato Guedes