O domingo, dia 12, assinala o transcurso de 35 anos do assassinato da líder sindical Margarida Maria Alves, na cidade de Alagoa Grande, na Paraíba. O crime teve repercussão internacional e foi cometido por pistoleiro contratado por proprietários rurais da região do agreste, onde ela, na condição de presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais, organizava a sua categoria para lutar pelos direitos a que faz jus. Abatida com tiro de espingarda 12, em sua residência, depois de um dia de reuniões e mobilização, Margarida inspirou lutas de trabalhadoras de todo o país, de que é exemplo a Marcha pelas Margaridas realizada anualmente pela Contag, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura.
Em depoimentos nos quais traduziu a sua visão acerca da realidade no campo, os quais foram transcritos pelo jornalista Sebastião Barbosa no livro A Mão Armada do Latifúndio, Margarida reclamava que a legislação trabalhista vigente era incompleta e sugeria uma reforma parcial onde o trabalhador tivesse vez e voz. Propunha que os sindicatos fossem livres, que os sindicalistas cassados pudessem retornar às suas atividades, uma lei de greve mais realista e menos interferência do Estado nos sindicatos. Os proprietários de terras da região sempre mostraram revolta e inconformação com a liberdade de atuação de Margarida na conscientização dos trabalhadores e externaram a reação através, inclusive, de ameaças que foram repassadas à polícia, sem que medidas efetivas fossem tomadas para garantir a integridade da líder sindical.
A importância dos sindicatos e federações sempre foi exaltada por Margarida Maria Alves, por encamparem reivindicações prementes como melhores condições de trabalho, pagamento de horas extras e de salários atrasados e fim das demissões em massa que ocorriam no segmento. Ela demonstrava preocupação com a pressão dos patrões sobre os empregados, não permitindo a sindicalização destes e nem aceitando em seus quadros os já sindicalizados. Defendia, por fim, a unicidade dos sindicatos, como estratégia para o fortalecimento das categorias. Em depoimento incluído no livro de Sebastião Barbosa, o então arcebispo metropolitano da Paraíba, dom José Maria Pires, já falecido, afirmava:
– Não consta que Margarida tivesse inimigos. A quem, então, poderia interessar sua morte? Pessoa simples, religiosa, trabalhadora e honesta, esposa fiel, mãe carinhosa e boa dona de casa, foi uma mulher comum, igual a milhares de outras paraibanas que enfrentam as lides de uma casa e as duras tarefas da agricultura, emparelhando-se com os homens no trabalho e superando-os na dedicação porque devem dar conta dos serviços domésticos e ajudar o marido no trabalho do campo. Margarida não devia ter inimigos. Pelo menos até o momento em que sua consciência foi despertada para os problemas das injustiças sociais contra os camponeses. Pessoa consciente é ameaça constante para um sistema de exploração. Margarida cresceu na consciência crítica e se tornou perigosa. Agia com destemor em defesa da classe e levava à Justiça quem quer que violasse direitos dos trabalhadores rurais em sua área de atuação. A partir daí estava decretada sua morte. Era questão de escolher a oportunidade. Outros tombaram antes dela, vários, depois; muitos ainda tombarão. Não é de hoje esse conflito entre o forte e o fraco, entre o lobo e o cordeiro.
Nonato Guedes