As eleições presidenciais de 1989, que registraram profusão de candidatos e de políticos veteranos como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola e Mário Covas, acabaram sendo vencidas por Fernando Collor de Mello, a bordo de um partido pequeno, o PRN, e concorrendo em segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva, já famoso como líder metalúrgico que comandou greves no ABC paulista e fundou o Partido dos Trabalhadores. Mas uma sensação à parte durante toda a campanha foi o médico cardiologista Enéias Ferreira Carneiro, que contava apenas com duas exposições diárias de 15 segundos, na televisão. Para compensar o raquítico espaço, ele lançou mão de um bordão que se tornou folclorizado: Meu nome é Enéias.
Natural de Rio Branco, capital do Acre, com militância profissional no Rio de Janeiro, Enéias faleceu em seis de maio de 2007, vítima de pneumonia e de sequelas de leucemia que havia contraído. Ele foi candidato por um partido igualmente novo no cenário político brasileiro, o Prona, partido da Ordem e da Lei. Além de cardiologista, Enéias era físico, matemático e escritor. Usou uma espessa barba, outra característica marcante da sua personalidade e falava num tom apressado para preencher os segundos de aparição. Filho de pais pobres, ele ficou órfão de pai aos nove anos, tendo se deslocado, depois, para o Rio de Janeiro, onde fez seus estudos. Enéias chegou a ter mais votos que Ulysses Guimarães, na época festejado como Senhor Diretas.
Em 1989, Enéias ficou colocado em décimo segundo lugar concorrendo com mais 20 candidatos ao Palácio do Planalto. Em 1994, ele ficou em terceiro lugar, atrás apenas de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 98, Enéias disputou a presidência da República pela terceira vez, sem lograr êxito. Em 2000, foi candidato a prefeito de São Paulo e perdeu a disputa. Em 2002, elegeu-se deputado federal com uma votação histórica estimada em 1,7 milhões de sufrágios, o que possibilitou que o Prona arrastasse 7 deputados federais eleitos em São Paulo. Ainda se reelegeu em 2006, obtendo, porém, apenas 387 mil votos. Nascido em 1938, Enéias era admirado por profissionais de medicina que o retratavam como excelente profissional. Na atividade política, constituiu-se em fenômeno eleitoral.
Quando tinha a oportunidade de expor suas ideias mais a vagar, Eneias Carneiro defendia posições tidas como conservadoras mas que atingiam de forma positiva segmentos do eleitorado médio brasileiro. Numa época em que não havia sido institucionalizado o chamado meme derivado da tecnologia da internet, Eneias folclorizou-se com o bordão com que se apresentava em busca de votos. Foi alvo de chacotas e de ironias pesadas, mas respondia a algumas delas também apelando para a ironia. A trajetória de Enéias como candidato fez escola em vários Estados, nas eleições de âmbito local. Em 89, havia três décadas que o Brasil não elegia um presidente por voto direto. O último fora Jânio Quadros, em 1960. Duas décadas de regime militar haviam tumultuado a sucessão natural entre gerações na conjuntura política brasileira. Os principais candidatos em 1989 eram rostos manjados do passado, mas a novidade chamada Fernando Collor de Melllo foi consagrada nas urnas. Collor definiu-se como um candidato jovem e ousado, denunciou a crise moral e bateu pesado nos coronéis, nos marajás e no então presidente José Sarney. Eleito, confiscou a poupança e enfrentou denúncias de corrupção através de um esquema comandado pelo empresário Paulo César Farias, o PC Farias, que fora tesoureiro da campanha. Em 92, Collor foi submetido a um processo de impeachment que o deixou de quarentena por vários anos. Atualmente, é senador pelo PTC, representando Alagoas e tenta retomar a cadeira da qual foi ejetado, sem, no entanto, dispor de chances.
Nonato Guedes