Experts políticos na Paraíba ressaltam que a decisão do governador Ricardo Coutinho (PSB) de permanecer no cargo até o último dia de mandato, abrindo mão de uma candidatura ao Senado em que figurava como favorito, confirma a vocação do socialista para o Executivo. Embora tenha sido vereador e deputado estadual e tenha se destacado nessa atividade, propondo, por exemplo, CPI para investigar a prostituição infantil na Capital, o estilo de Ricardo seria o de fazer e mandar, atribuições que no Executivo são mais visíveis. Fazer significa, no caso, realizar obras públicas, mandar simboliza o desejo de exercer o poder na plenitude, conforme a interpretação de aliados ricardistas.
Já há algum tempo, quando ocupava mandato de deputado estadual, Ricardo foi abordado por repórteres sobre a possibilidade de disputar uma vaga no Senado. Disse, na ocasião, que não descartava a perspectiva, mas não morria de amores pelo Senado, instituição mais apropriada, conforme sua definição, a políticos velhos, também denominados de experientes. Para justificar a sua atitude este ano de não se afastar do Palácio da Redenção, Coutinho alegou que não iria entregar o comando do Estado a políticos aventureiros que poderiam destruir todo um trabalho por ele encetado ao longo de quase oito anos.
Quando mencionou aventureiros que poderiam desestabilizar uma situação pacientemente montada e que ele tem sob controle, o governador Ricardo Coutinho estava em divergência com o clã Feliciano, representado pela vice-governadora Lígia e pelo marido, o deputado federal Damião, presidente do diretório regional pedetista. Não passava pela cabeça de ninguém que, diante da hostilidade aos Feliciano, o governador optasse por manter Lígia como candidata a vice na chapa encabeçada por João Azevedo, o candidato oficial do PSB. Coutinho surpreendeu mais uma vez e chancelou a manutenção de Lígia, bem como a coligação socialista com os pedetistas do Estado.
– As verdadeiras razões do comportamento político do governador nas eleições deste ano ainda estão para serem esclarecidas revela uma fonte de extrema confiança de Ricardo, insinuando haver detalhes de bastidores que não foram suficientemente explorados pela mídia ou avaliados por líderes políticos, inclusive, adversários. Enquanto não se decifra o que está por trás do gesto do chefe do Executivo, vai ganhando corpo a tese de que Ricardo prepara-se para, lá na frente, candidatar-se novamente a prefeito de João Pessoa, Capital que ele governou por duas vezes, e pela qual tem uma atenção especial, além da identificação por ter nascido aqui. Como de hábito, o governador não avança prognósticos. Uma das últimas assertivas, em contato com a imprensa, foi a de que não precisa de cargos ou mandatos para sobreviver.
Nonato Guedes