Foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que sancionou em 2010 a Lei da Ficha Limpa, depois de aprovada com os votos dos parlamentares petistas. Na época, Lula se atribuíra a tarefa de limpar a imagem do partido que ele fundou no Colégio Sion, em São Paulo, chamuscada por denúncias de mensalão, espécie de mesada paga a parlamentares de variados partidos que apoiassem matérias oriundas do governo, no teor que este desejasse. No caso do mensalão, Lula o grande comunicador, segundo Ali Kammel montou o teatro particular dizendo ter sido apunhalado por companheiros petistas. Quando as provas foram coligidas e submetidas a análise no Supremo, ministros descobriram que o mensalão era a ponta do iceberg de um esquema criminoso montado pelo PT, pelo menos com o conhecimento de Lula. Depois, veio o petrolão.
Ficou gravada na memória nacional a definição do ministro sergipano Carlos Ayres Britto de que o mensalão havia se constituído num ponto fora da curva. Era uma forma elegante de dizer que havia sido comprovado um desvio monumental de dinheiro público para saciar apetites de políticos inescrupulosos recém-chegados ao poder, enquanto faltavam recursos para investir na educação, na saúde, no saneamento básico, na segurança pública. A dados de hoje, Lula ostenta a dupla condição de presidiário e ficha-suja. Isto não foi o suficiente, porém, para que o PT, dentro da legalidade, descartasse o registro de sua candidatura para qualquer coisa até em eleição para síndico de prédio. O PT foi ao extremo e registrou Lula no TSE como candidato a presidente da República.
Tudo isto é uma empulhação, como sabe a maioria consciente do eleitorado brasileiro, mas no País do faz de conta a mídia é levada a tratar Lula como candidato, até que a Justiça decrete o contrário. No afã de ganhar tempo e tumultuar o processo, Lula e seus defensores pretendem arrastar a decretação definitiva de sua inelegibilidade, com recursos e chicanas jurídicas, para até 17 de setembro. Se o objetivo for alcançado, não haveria tempo hábil para a Justiça Eleitoral tirar sua fotografia da urna eletrônica. Parece um capricho pessoal, mas é uma artimanha eleitoral, adverte, judiciosamente, a revista Veja, lembrando que com a foto de Lula na urna, mesmo não sendo candidato, o PT acredita que conseguirá captar os votos dos incautos, dos menos informados e também daquele eleitorado apaixonado pela figura do ex-presidente, que não hesitaria em confirmar o voto ao ser confrontado com a imagem dele, mas sem saber que estaria elegendo um fantasma. É este o plano extraordinário de Lula e do PT: esticar a corda e, quem sabe, ludibriar o eleitor, avisa a reportagem da revista.
Para materializar o plano, primeiro é preciso fazer com que os eleitores acreditem que Lula é realmente candidato uma série de ações políticas nessa direção já está sendo posta em prática. E, para obter êxito, o que significaria manter a foto de Lula na urna eletrônica, o partido aposta nas chicanas jurídicas. Para tanto, vem seguindo à risca um guia montado às pressas para impulsionar a candidatura de Lula. Lula chegou a pedir à Justiça autorização para participar de entrevistas, sabatinas e debates. Como o pedido foi recusado, solicitou às emissoras de TV que montem um púlpito com o seu nome no cenário dos programas. O objetivo é mantê-lo vivo no imaginário do eleitorado. Para o Brasil, é lamentável essa coleção de chicanas destinadas a levar o mais longe possível a ilusão da viabilidade da candidatura de Lula. Já não é mais respeito à democracia. É insulto à capacidade do eleitorado, como se ele não tivesse condições de discernimento. Os petistas riem, a pregas soltas. Mas riem do povo, dos inocentes, puros e bestas que ainda acreditam na história de golpe, que não se preocupam em conferir sinais exteriores da riqueza de Lula e de capôs petistas e que se dispõem a respaldar a grande farsa montada e em pleno andamento. Sem tirar nem pôr, este é o enredo da pantomima em execução.
Nonato Guedes