Mesmo preso, Luiz Inácio Lula da Silva permanece vivíssimo. E não terá dificuldades para levar Fernando Haddad ao segundo turno. O prognóstico é do cientista político Marcos Coimbra, fundador do Instituto Vox Populi, em artigo na revista CartaCapital da qual é colaborador. Segundo ele, Lula continua a ser avaliado como o melhor presidente da história brasileira e aquele em cujo governo a vida mais melhorou. É o político mais querido e com atributos mais admirados na atualidade, muito à frente de qualquer outro. A maioria das pessoas gosta dele por motivos pragmáticos (o bolso) e emocionais (o coração), enfatiza Coimbra, acusando o candidato do PDT, Ciro Gomes, de incapacidade para reconhecer a força do enraizamento popular da liderança de Lula e a densidade social do PT.
Para Coimbra, Ciro equivocou-se ao acreditar que havia à disposição um espólio sem herdeiros e que suas qualidades pessoais o habilitavam a reivindicá-lo. A constatação de que alguém está preso por motivos fúteis, ao cabo de um processo que a grande maioria considera político e não jurídico é de tal forma estranha que as pessoas supõem que o descalabro será consertado assim que terminar a eleição. Imaginam, com certa razão, que se a única motivação da prisão foi tirá-lo da urna, tão logo acabe, o despropósito se solucionará, acrescenta. Para ele, os sucessivos atos vistos como injustos e persecutórios de magistrados de todos os níveis, promotores e policiais, somente reforçaram, desde o início do ano, a ligação entre a maioria da população e o ex-presidente. Ao contrário do que temia a esquerda, desejava a direita e calculava Ciro Gomes, a caçada e a prisão não prejudicaram a imagem de Lula.
– No que se refere ao PT prossegue a consequência disso é o inédito crescimento das simpatias e identidades. Nunca, a não ser no auge do segundo governo Lula, foi tão expressiva a parcela petista na sociedade e a propensão a votar no PT está no nível de 2010, quando Dilma Rousseff venceu. Parece que de nada adiantou o tiroteio dirigido pela imprensa conservadora, em especial pelas empresas do Grupo Globo, contra o partido. Do lado inverso, nunca foi tão pequeno o antipetismo, hoje na casa de 25% da opinião pública, depois de haver alcançado 40%. É tentador dizer que de tanto querer exterminar o PT a aliança conservadora acabou por fortalecê-lo.
Marcos Coimbra opina que, com Lula, a esquerda tem tudo para vencer a eleição no primeiro turno. Caso seja impedido, a candidatura de Fernando Haddad e Manuela dAvila, em uma coligação com o PCdoB e partidos menores, sem a divisão que Ciro significaria, é favorita a terminar o primeiro turno na frente. No segundo, seu adversário mais provável continua a ser Jair Bolsonaro. Chegam a ser cômicas as contas as contas que os marqueteiros tucanos andam fazendo, de que Geraldo Alckmin tem votos a buscar no eleitorado bolsonarista, pois seria a segunda opção de um terço dele. Ainda que conseguisse a proeza de conquistar quem já o conhece e o descartou ao compará-lo a um direitista mais autêntico e combativo, continuaria atrás do capitão. Ele e o ex-governador resolveram disputar o campeonato de ultradireitismo, procurando companheiros de chapa ainda mais conservadores. O que fizeram foi criar complicadores para o antipetismo menos furioso, obrigando-o a votar em anacronismos, como os que inventaram. Bolsonaro, tão à frente de Alckmin como está, pode ignorar a necessidade de crescer agora e manter sua aposta de que receberá o voto antipetista no segundo turno. A seu modo, foi mais hábil que o paulista na montagem do jogo. Léguas adiante de todos, o grande mestre foi Lula, finaliza Marcos Coimbra.
Nonato Guedes