Nas eleições de 1990 ao governo da Paraíba, disputadas entre Ronaldo Cunha Lima (PMDB) e Wilson Braga (PDT), com a vitória do poeta, os respectivos comitês fizeram ajustes, inclusive, de imagem, para persuadir eleitores num derradeiro esforço com vistas a ganhar a parada. Braga apareceu recauchutado no Guia Eleitoral na TV, esforçando-se para não tropeçar nas palavras e para dominar melhor a pronúncia, um dos seus pontos vulneráveis. Uma fonoaudióloga foi especialmente contratada para burilar o candidato.
Ronaldo, orientado pela assessoria, considerou uma vitória o resultado conseguido no primeiro turno que lhe deu o passaporte para a finalíssima. Afinal, o slogan repetido pelo marketing de Braga, já no primeiro turno, exortava: Agora é voto e no primeiro turno. Como a decisão ficou para a segunda rodada, Braga sofreu abalo de credibilidade e entrou aparentemente em desvantagem na reta final. Ronaldo, pelo menos, demonstrou mais ritmo e empolgação, numa estratégia para capitalizar o fato de estar no segundo turno que só se viabilizou, na verdade, graças à votação expressiva alcançada pelo candidato João Agripino Neto, do PRN. João Neto declarou apoio a Cunha Lima num evento no Espaço Cultural, encerrada a sua participação ativa na disputa.
Em termos de discurso, Ronaldo ficou mais à vontade para reafirmar compromissos com o processo de mudanças que a Paraíba reclamava e voltou a se queixar da trágica situação em que o Estado se encontrava, responsabilizando diretamente Braga (que fora governador em 83) e Tarcísio Burity (que estava no governo em 90) pelo panorama sombrio. A Paraíba não é ingovernável, está ingovernada, ecoava Ronaldo, apelando para o trocadilho em que era especialista. Exibiu como trunfo e sinal da perspectiva de mudança o fato de que os apoios à sua postulação foram ampliados no segundo turno. Além de João Neto, ficaram ao lado de Cunha Lima militantes do Partido dos Trabalhadores e ele teve o apoio do PCdoB e do PCB. Houve o reforço do senador já eleito Antônio Mariz, que derrotou Marcondes Gadelha num duelo histórico.
O staff braguista quebrou cabeça na formulação de táticas para esvaziar o crescimento da candidatura de Ronaldo, que era visível claramente em inúmeras regiões do Estado. O senador Humberto Lucena veio a João Pessoa acompanhar de perto a reta final e aconselhou Ronaldo a não fazer o jogo de Braga, que tentava arrastá-lo para discussões de natureza pessoal. A orientação repassada a Cunha Lima foi no sentido de reafirmar propostas e compromissos com essas propostas mudancistas. A avaliação dos analistas políticos foi a de que Wilson se deixou levar pela onda de triunfalismo estimulada pelos seus assessores e aliados políticos. Em consequência, deu-se o impacto negativo de uma ínfima maioria de quatro mil votos que Braga pôs sobre Ronaldo no primeiro turno em todo o interior do Estado. Em João Pessoa, a maioria de Wilson foi de 32 mil votos, aquém, igualmente, do esperado. A candidatura de Ronaldo está posta acima de partidos, definiu Cássio Cunha Lima, que atuou como principal coordenador da campanha pelo Estado. Cássio dizia que a receptividade a Ronaldo refletia a reação popular ao que de pior já houve em termos de prática política e administrativa na Paraíba. Os prognósticos confirmaram-se e Ronaldo saiu consagrado das urnas ao final do embate.
Nonato Guedes