Político de perfil conservador mas, também, de índole conciliadora, o médico Clóvis Bezerra Cavalcanti, natural de Bananeiras, no brejo paraibano, foi deputado estadual por seis vezes, presidiu a Assembleia Legislativa em inúmeras legislaturas, inclusive, no período de cassação de mandatos de deputados pela própria Casa, com a eclosão do movimento de 64, foi escolhido como vice de ErnanySátyro e, mais tarde, de Tarcísio Burity, na década de 70 e eventualmente exerceu o governo na condição de dirigente da AL, numa delas por ocasião da perda do mandato de Severino Cabral, que era vice de João Agripino Filho. Em meados de 82, com a saída de Burity para disputar mandato na Câmara Federal, Clóvis tornou-se efetivamente governador do Estado, mantendo uma postura discreta e equilibrada e procurando dar continuidade a obras que estavam empenhadas ou planejadas. Faleceu no dia 26 de fevereiro de 2003, em João Pessoa, sendo sepultado em Bananeiras.
Clóvis ingressou na política filiando-se à UDN e manteve-se nos partidos sucedâneos como a Arena e o PDS. Em 1946 foi prefeito de Bananeiras nomeado pelo interventor-desembargador Severino Montenegro. Em 1947, elegeu-se deputado estadual, iniciando, aí, uma longeva carreira na AL. O historiador Humberto Melo chegou a defini-lo como a cara da Assembleia. Foi secretário de Saúde no governo Ivan Bichara Sobreira e coube-lhe passar o governo do Estado a Wilson Braga, o primeiro governador eleito após o regime de exceção, em 1983. Formado em Medicina pela Universidade da Bahia, Clóvis foi personagem de uma crise institucional por ocasião da eleição para a Mesa do Legislativo em fevereiro de 1963. Com 20 votos contra 19 de Clóvis, o trabalhista José Maranhão não conseguiu a maioria absoluta de quarenta deputados, o que forçou a efetivação de novo escrutínio. Mantidos os resultados, o bloco PSD-PTB-PSB proclamou-se vitorioso, mas os situacionistas, aferrados ao regimento, realizaram novo pleito até conseguir 20 votos, o que assegurou a eleição de Clóvis, mais idoso que o concorrente. José Octávio de Arruda Mello, historiador, atribui ao prestígio de Clóvis, em 1978, a apertada vitória conseguida por Tarcísio Burity na convenção arenista de 18 de maio. Os delegados arenistas do interior que chegavam a João Pessoa e se dirigiram ao Palácio lá se avistavam com Clóvis Bezerra, madrugador e dotado dos atributos de sempre seriedade, firmeza e espírito público.Foi em razão disso que Burity o converteu em companheiro de chapa como vice-governador, preterindo Waldir dos Santos Lima, que se bandeou para a dissidência marizista.
Ao assumir no lugar de Burity, Clóvis prometeu exigir o máximo de empenho dos secretários para que a máquina não ficasse parada. Recomendou parcimônia nos gastos públicos, muito cuidado na efetivação de despesas e realização de concorrência pública, além de pedir colaboração do funcionário para melhor rendimento administrativo. Não pretendo demitir ou transferir ninguém. Só espero que todos os servidores se comportem com isenção, sem usar a repartição para fazer política, muito menos contra nós, declarou. Clóvis lutou pela permanência do programa emergencial contra a seca junto ao governo federal. Ele ouviu do presidente João Batista Figueiredo que teria apoio para administrar o Estado. Revelava não ter maiores ambições pessoais, senão a de terminar aquele período administrativo. Ele comandou a Assembleia Legislativa em plena eclosão do movimento militar de 64 e hipotecou solidariedade irrestrita à nova ordem.
Nonato Guedes