As surpresas, bizarrices e atipicidades da campanha eleitoral deste ano no Brasil, para os diversos níveis de presidente da República a deputado federal já compõem, na média, um samba de crioulo doido como fundo musical da caça aos votos. Basta citar a chapa tríplex lançada pelos partidários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está sub judice, o que levou o PT a escalar Fernando Haddad como alternativa e a aceitar o nome da deputada estadual gaúcha Manuela DAvila como reserva para vice de Haddad, que é oficialmente o vice de Lula. Já tivemos o quiproquó montado quando da unção de Jair Bolsonaro como candidato do PSL ao Planalto a doutora Janaína Paschoal, cotada para vice, entoou um discurso de adversária ou até mesmo inimiga do capitão reformado. Mais surrealista do que isso, impossível.
Ainda teremos mais espetáculo pela frente. Falta definir, por exemplo, até que dia Lula permanecerá na chapa, se sua foto vai desfilar na urna eletrônica enfim, como se resolverá o monumental imbróglio criado pelo Partido dos Trabalhadores para tumultuar a eleição, o que tem sido feito cotidianamente, ora com provocação à Justiça para soltar Lula e deixá-lo participar de um debate em televisão, ora com chicanas e atitudes ridículas. Uma comissão de direitos humanos da ONU, Organização das Nações Unidas, chegou a recomendar à Justiça brasileira que coloque o ex-presidente Lula em liberdade e que o deixe ser candidato a presidente da República, mesmo tendo sido condenado, preso e alcançado pela Lei da Ficha Limpa que, no seu caso, atinge um candidato ficha suja.
A recomendação da tal comissão da ONU tinha tudo para figurar no anedotário como a mais monumental história de intromissão de órgão estrangeiro na soberania de um país, não fosse o fato, como alertaram colunistas da mídia sulista, de que a referida comissão tem tanto poder persuasivo quanto a direção de um clube de Rotary em qualquer cidade brasileira. Ou seja, um poder meramente decorativo, ou ornamental, sem nenhum efeito concreto sobre a democracia brasileira. Até porque essa comissão da ONU é conhecida por fechar os olhos a ditaduras de esquerda na América Latina e em outros países, bem como silenciar diante de atrocidades como violações de direitos humanos e escalada de assassinatos por perseguição política. Falta-lhe autoridade moral para vir dar lição ao Brasil nesta quadra da vida democrática, em que se cumpre o mandamento de que a lei é para todos e que ninguém está absolutamente acima da lei.
O samba do crioulo doido incorporou nas últimas horas mais uma pérola. O senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, deixou claro que seu voto para presidente da República é em Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, se ele puder ser candidato. Nada demais nessa manifestação de preferência do dirigente pepista, não fosse o fato de que a agremiação que ele preside integra a chapa encabeçada pelo tucano Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, tendo como candidata a vice a senadora Ana Amélia, que é filiada sim, filiada ao Partido Progressista. Parodiando Caetano Veloso, alguma coisa está fora da ordem no cenário político brasileiro. Mas ainda vem mais surpresa por aí, não seja por isso. Não perderemos a oportunidade de ver engrossado o que Stanislaw Ponte Preta batizou apropriadamente de festival de besteiras que assola o País. Está no ar a versão 2018 do Febeapá.
Nonato Guedes