O ex-governador Wilson Braga e sua mulher, a ex-deputada federal Lúcia Braga, que dominaram a cena política paraibana por cerca de meio século, estão ausentes da campanha eleitoral deste ano, sinalizando, dessa forma, que se despediram da cena política onde tiveram um protagonismo marcante e, às vezes, polêmico. O canto do cisne de Wilson aconteceu na legislatura passada como deputado estadual foi seu último mandato ao longo de uma carreira iniciada em 1954 na Assembleia Legislativa. A idade, os problemas de saúde e um certo desencanto com a vida pública contribuíram para o afastamento do casal da política. Lúcia havia se despedido um pouco antes.
Natural de Conceição, no Vale do Piancó, Wilson Braga deixou a política sem inscrever no currículo o mandato de senador, que perseguiu com obstinação. Em contrapartida, acumulou mandatos em série como deputado estadual, deputado federal, prefeito de João Pessoa, governador do Estado. Foi, também, vereador na Capital paraibana, tornando-se um dos mais votados no pleito que disputou na década de 90. De tradição política udenista, Wilson militou nos partidos sucedâneos como Arena, PDS e PFL, mas também ingressou no PDT do engenheiro Leonel Brizola como parte de estratégia para tornar seu perfil mais progressista. Sua eleição ao governo deu-se em 1982, derrotando o principal adversário, Antônio Mariz, por 151 mil votos de diferença. O feito significou o coroamento da trajetória política de Wilson, que mantinha sob controle a máquina partidária e esteve infiltrado com pessoas de sua confiança em diferentes administrações estaduais.
A primeira derrota ao Senado ocorreu nas eleições de 1986. Wilson apoiou Marcondes Gadelha ao governo e decidiu concorrer à Câmara Alta. Gadelha foi batido nas urnas por Tarcísio Burity, que então concorria pelo PMDB e Wilson foi desbancado por um empresário até então sem tradição política, Raimundo Lira, que ainda agora exerce mandato senatorial, tendo desistido de concorrer a cargos no pleito em andamento. Wilson foi um político polêmico, que comprou brigas históricas e adotou uma linhagem populista como característica do seu perfil, legando investimentos em obras como o projeto Canaã. Depois de eleito governador em 82, ele sustentou polêmica com o governador eleito de Minas Gerais, Tancredo Neves, ao propor a exclusão de Minas do Conselho Deliberativo da Sudene, insinuando que o Estado era gigolô da economia nacional, já que sugava recursos e investimentos de Estados mais pobres como a Paraíba. A atitude de Braga foi uma reação a declaração feita por Tancredo Neves de que o PDS havia se constituído em partido nordestino, já que perdera as eleições de governadores nos Estados que somavam o maior PIB do país.
Quando Tancredo foi candidato a presidente da República por via indireta em 1985, Wilson Braga declarou-se eleitor de Paulo Maluf, mas o casal ficou dividido, já que Lúcia tomou partido por Tancredo. O assunto rendeu espaços na imprensa nacional mas não afetou a relação harmoniosa do casal. Lúcia destacou-se como deputada federal constituinte, em 1988, alinhando-se com a bancada progressista e enfrentando expoentes do chamado Centrão, que lutava para monopolizar os trabalhos de elaboração do novo texto constitucional. A então deputada não chegou a ser assídua, devido a um drama familiar resultante do acidente automobilístico com a filha Patrícia,na cidade de Alfenas, Minas Gerais, o que a levou a dar dedicação integral à filha, que veio a falecer anos mais tarde, após um período em estado vegetativo. Em 1994, Lúcia candidatou-se ao governo do Estado, enfrentando Antônio Mariz, que foi vitorioso, mas governou precariamente e por pouco tempo faleceu em 1995 acometido de câncer, sendo substituído por José Maranhão, que havia sido escolhido vice da sua chapa.
Nonato Guedes