No dia 19 de janeiro de 1983, numa reunião com deputados federais e estaduais paraibanos em João Pessoa o então presidente da República João Batista Figueiredo garantiu que estava disposto a suspender as últimas obras de seu governo em outras regiões para aplicar recursos no Nordeste. A versão foi confirmada por pelo menos três deputados do PDS Ernani Sátyro, federal, Eilzo Matos e Soares Madruga estaduais, que participaram de audiência informal no hotel Tambaú com o chefe da Nação. Figueiredo falou, na ocasião, das dificuldades causadas pela crise econômica mas assegurou que o Nordeste teria prioridade e que qualquer recurso existente em seu governo seria canalizado para a região, mesmo com o sacrifício de programas em andamento em outras áreas.
A seca e a crise econômica do Estado foram os principais assuntos tratados pelos políticos paraibanos com o último presidente do ciclo militar. O então governador Clóvis Bezerra considerou gravíssima a situação financeira da Paraíba e entregou ao presidente um documento pleiteando a liberação de recursos a fundo perdido ou a título de empréstimo para que fosse mantida em dia a folha de pagamento de pessoal. Em resposta, Figueiredo sugeriu que o problema fosse encaminhado aos órgãos da área econômica federal, mas reiterou sua preocupação com o Nordeste e lembrou que idênticos problemas vinham sendo enfrentados pelos demais Estados da região.
Já o governador eleito Wilson Braga reivindicou medidas concretas para a solução do problema da seca, lembrando que 67 dos 171 municípios paraibanos encontravam-se novamente em situação de emergência. Reivindicou atenção especial do presidente para um projeto de construção de barragens com vistas à irrigação de cem mil hectares de terras durante a sua gestão. Nas eleições de 1982, as primeiras diretas após o regime militar, Wilson derrotou o então deputado Antônio Mariz, que concorreu pelo PMDB, com uma diferença de 151 mil votos, e o candidato Derly Pereira, lançado pelo Partido dos Trabalhadores. Não há registro de que Figueiredo tenha paralisado obras em outras regiões para atender ao Nordeste, mas políticos que atuavam na década de 80 revelam que algumas medidas pontuais reivindicadas ao presidente foram liberadas pelo Planalto sem a necessidade de sacrificar atendimento a outras localidades do país. Avaliam que Figueiredo recorreu à frase como força de expressão. O PDS elegeu de ponta a ponta os governadores do Nordeste, o que valeu do governador eleito de Minas Gerais, Tancredo Neves, do PMDB, a comparação de que se tratava de um partido eminentemente nordestino. Wilson Braga tomou as declarações como uma desfeita ao eleitorado da região e anunciou, como represália, que iria lutar para excluir Minas Gerais do Conselho Deliberativo da Sudene. Argumentou, então, que Minas Gerais era gigolô da economia nacional.
Nonato Guedes