Em comum acordo com sua assessoria, o candidato a presidente da República Jair Bolsonaro, do PSL, está decidindo não participar mais de debates com outros postulantes. A avaliação, dele e do seu staff, é a de que o formato dos debates que estão sendo promovidos por veículos de comunicação não faz o gênero de Bolsonaro nem lhe permite expor com clareza pontos de vista que gostaria de repassar para o eleitorado. A razão é outra: Bolsonaro, um capitão reformado do Exército, foge de debates por falta de preparo e ausência de propostas diferentes e viáveis para o País.
Ele já deu provas sobejas de que não está à altura do desafio de disputar a Presidência da República. Suas ideias genéricas de um Estado forte, sobretudo contra os bandidos, soam anacrônicas, repetições de intervenções surradas que já foram feitas por oradores diversos ao longo da história política brasileira. Em paralelo com a Segurança, um grave problema de brasileiros e brasileiras é a economia. O que propõe Bolsonaro a respeito? Não propõe, alegando não ser economista. A Constituição não exige que candidatos a presidente da República sejam economistas ou entendam de economia, mas o imaginário popular cria expectativas de que os postulantes tenham um mínimo domínio nesse terreno e acene com ideias próprias, se possível, ideias originais, que modifiquem cenários de estagnação ou recessão que têm sido experimentados.
O candidato Bolsonaro é a combinação do vácuo de lideranças políticas existente no Brasil com o desgaste dos políticos em geral e a incapacidade dos partidos em responder à altura as exigências da sociedade quanto ao bem-estar coletivo. A conjuntura é tão atípica que o atual presidente Michel Temer, gestado numa intervenção cirúrgica diante do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, é campeão absoluto de rejeição popular por absoluta incompetência para gerenciar os destinos do País. Temer, em face dessa precariedade, não deteve credenciais para ser homenageado pelo seu partido, o MDB, com a deferência de candidatar-se à reeleição, simplesmente porque o partido percebeu tratar-se de um cabo eleitoral impopular, de um candidato que não sensibiliza as massas.
Para a sociedade, Michel Temer é admitido como um mal necessário para que o calendário democrático do país possa cumprir fielmente a tabela imposta em casos excepcionais como o do impeachment da presidente Dilma, situação em que o vice, no caso Michel Temer, é chamado a empalmar o poder. No final das contas, acaba sendo um preço muito caro que se paga à manutenção do exercício democrático porque o País parece tomado por uma sensação de paralisia, de imobilismo em relação às medidas mais urgentes que precisam ser tomadas. Ainda assim, o arremedo de governo que aí está tem que ser tolerado em nome dos bons costumes políticos nacionais.
No reverso da medalha, um ex-presidente que lidera as pesquisas de intenção de voto está impossibilitado de se comunicar com os eleitores porque se encontra atrás das grades, cumprindo pena que lhe foi imposta por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A popularidade do ex-presidente Lula é derivada da construção artificial de um ídolo com pés de barros. Quer se fazer crer ao povo que Lula é um santo, punido injustamente. Na verdade, como diz o cientista Marco Antonio Villa, apropriadamente, nem presidenciável Lula é. Trata-se de um presodenciável.
Nonato Guedes