A revista CartaCapital, que na sua linha editorial defende ostensivamente os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, por cujos governos foi beneficiada com verbas de publicidade, abriu espaços para uma entrevista do presidenciável Ciro Gomes, do PDT, em que ele chama de fraude a estratégia do PT ao manter a candidatura de Lula mesmo o ex-presidente estando preso e sendo condenado pela Lei da Ficha Limpa. Ciro afirma, ainda, que depois de Lula, considera-se o político mais progressista no cenário brasileiro e ressalta que por 48 horas foi bombardeado com convites para ser o vice de Lula na corrida presidencial, mas considerou a proposta um insulto.
Ciro não esconde seu descontentamento e irritação com a atitude da cúpula nacional do PT de levar o PSB a declarar neutralidade nas eleições em curso. Considera que houve uma punhalada nas costas e que foi vítima de uma manobra inescrupulosa de um aliado histórico. A oferta para ser vice de Lula também foi qualificada por Ciro como uma ofensa. Apesar do tom belicoso, Ciro chegou a defender uma aliança no segundo turno. Não vou votar na direita, não vou fazer como a Marina Silva, que o PT empurrou para o colo deles. Quero deixar as portas abertas para encerrar essa agenda golpista, antipobre e antinacional que o governo Temer e seus aliados do PSDB representam, enfatiza.
– Se disputo a Presidência da República e o PT também tem seu candidato, somos, por definição, adversários. É um truísmo, nem remotamente isso significa que somos inimigos. Ao contrário, mesmo quando a cúpula petista fez as coisas mais inescrupulosas comigo e vi uma certa militância se levantar muito aborrecida do meu lado, escrevi uma carta pedindo calma. Claro que, daqui para a frente, isso gera uma certa tensão, pois a cúpula do PT fez uma opção. É uma espécie de fraude contra uma imensa quantidade de brasileiros que, de boa-fé, gostam do Lula, querem o seu bem e gostariam de votar nele, como eu fiz ao longo de 16 anos. O registro e a manutenção da candidatura de Lula são uma tentativa de manipulação. Amanhã, ao se confirmar a interdição de Lula, vão lançar Fernando Haddad com a Manuela DAvila de vice. É um convite à população para dançar na beira do abismo apregoa Gomes.
Ciro frisou que não representa o PT e discorda há tempos da compreensão que o Partido dos Trabalhadores tem do Brasil. Para ele, o PT não tem um projeto nacional, ou seja, um projeto de país e aproveitou a liderança extraordinária de Lula mas não desenhou nada institucionalmente. Nem os grandes avanços, em matéria de políticas sociais, foram institucionalizados reclamou ele. Ciro diz que tem Lula como um velho companheiro, com o qual possui mais acordos do que discordâncias. Uma coisa que não sabem é que eu estava nos Estadps Unidos quando ele foi preso e pedi para o meu irmão passar a madrugada com ele lá no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista. No dia seguinte, comecei a levar grosseiras pancadas por estar ausente, narrou Ciro. Ele confessa que se sentiu honrado ao ser convidado para participar do governo de Dilma Rousseff mas recusou a oferta por avaliar que o governo seria um desastre. Estive com ela até o último dia em nome da democracia. O Ceará deu dois terços dos votos contra o impeachment. Mas isso que a cúpula do PT armou é uma fraude. O próximo governo, se essa estratégia for exitosa, não dará certo. Se o Haddad chegar à Presidência com esse tipo de expediente, chegará bem pequeno, finalizou.
Nonato Guedes