O governador Ricardo Coutinho (PSB) não é propriamente um crente em milagres políticos. Tendo começado sua trajetória cedo, enfrentado oligarquias, vencendo ou perdendo com pesos-pesados, até os derrotando diretamente no confronto a céu aberto, o gestor tem noção mais que perfeita dos meandros desse território arisco chamado política que, no dizer das raposas mineiras, é como nuvem olha-se para o céu, está de um jeito, olha-se de novo, está de outro jeito. O resultado dos pleitos eleitorais, sabe bem o governador, está condicionado a fatores como o carisma do postulante, a avaliação de governos e o desempenho de máquinas faltando um desses componentes, a equação estará condenada ao desastre.
No cenário que está montado atualmente na Paraíba, nas eleições para a sucessão ao Palácio da Redenção, que Ricardo ocupa pela segunda vez, o governo é razoavelmente bem avaliado, o governador tem uma porção igualmente razoável de aprovação, mas o candidato apresentado pelo staff, João Azevedo, não avança nas intenções de voto em percentuais encorajadores pelo menos para uma largada mais triunfal na mídia ou no Guia Eleitoral. Estive na cidade de Cajazeiras, Alto Sertão paraibano, espécie de Meca da política no hinterland, termômetro que orientou muitos governadores em disputas decisivas, antológicas até. Lá, as preferências dividem-se, aleatoriamente, entre o ex-governador José Maranhão, candidato ao governo pelo MDB, e Lucélio Cartaxo, candidato do PV. Não é que o PV tenha influência ou histórico na terra da Cultura. É que Lucélio é descendente de uma família que está profundamente enraizada no entorno de Cajazeiras, com ramificações espalhadas pela vizinha Sousa, a terra dos dinossauros. O prefeito de Cajazeiras, José Aldemir Meireles, do PP, apoia Lucélio, fiel aos ditames partidários, mas não parece ter controle hegemônico em termos de votos, tanto mais porque está empenhado na eleição da sua mulher, a doutora Paula, a deputada estadual.
Enquanto isso, José Maranhão desponta com naturalidade em intenções de voto em Cajazeiras, independente de legenda, de apoio de prefeitura ou de máquina. É evidente que carece de reforço logístico, já que o próprio MDB que ele preside não detém uma estrutura no Estado capaz de transferir cobertura para candidatos. Mas Maranhão consegue a façanha de, em certa medida, passar por cima da cobrança de estrutura logística para se impor por mérito próprio, ou seja, pelas obras e serviços que implementou ou carreou para Cajazeiras e, em outra parte, pela confiança que ele infunde, do ponto de vista de acenar com humanização do governo ou com bem-estar para camadas da população que contabilizam as perdas ocasionadas pelo desemprego, pela falta de perspectivas num solo esturricado pela estiagem intermitente.
O confronto, em Cajazeiras e no seu entorno, é, portanto, ostensivamente firmado entre José Maranhão e Lucélio Cartaxo. Se oscilações ocorrerem dentro da lógica natural de migração, será para inverter a polarização, que hoje é enfeixada por José Maranhão, passando a se concentrar em Lucélio. A disputa proporcional motiva os eleitores de Cajazeiras e dos municípios vizinhos ou periféricos, pelas peculiaridades inerentes ao prélio de campanário, com o acirramento previsível e o rasgo de criatividade aguardado a qualquer momento como uma recriação do estalo de Vieira, para desequilibrar situações ou cenários políticos-eleitorais. O que não salta à vista é a hipótese de operar-se um milagre que alavanque João Azevedo para além do ínfimo percentual que ostenta. Milagres desse tipo não brotam nem mesmo na terra do Padre Inácio de Souza Rolim, o grande educador dos Sertões. A pergunta que se começa a fazer: aceitaria o esquema liderado pelo governador Ricardo Coutinho ceder anéis para não perder os dedos todos das mãos? Diga-se, para efeito de informação histórica, que ceder os anéis implicaria, no caso de Ricardo, em retirar a candidatura de João Azevedo e compor-se com Maranhão ou Lucélio, já que não parece haver Plano B no estoque do oficialismo de plantão. A conferir!
Nonato Guedes