O deputado federal Marcondes Gadelha (PSC) está empenhado na preparação do livro sobre a aventura da candidatura do apresentador de televisão Sílvio Santos a presidente da República em 1989, tendo o político paraibano como vice. A chapa despertou fortes resistências em meios políticos e empresariais, diante da popularidade de Sílvio e da chance concreta de vitória na primeira eleição presidencial direta após o golpe militar de 1964. Também houve uma ofensiva das Organizações Globo, liderada pelo empresário Roberto Marinho, concorrente de Sílvio Santos, que não absorvia a ascensão dele ao cargo de mandatário da Nação, e da parte de esquemas de candidatos teoricamente favoritos em 89 como Fernando Collor de Mello (PRN), que acabou sendo eleito em segundo turno, derrotando Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A chapa Sílvio Santos-Marcondes Gadelha acabou impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral, que por sete votos a zero considerou ilegal o registro do PMB, partido de aluguel pelo qual Sílvio concorreria, enquanto Gadelha disputaria pelo PFL. O empresário Roberto Marinho chegou a pressionar o então presidente José Sarney a fazer um pronunciamento à Nação dizendo que não tem nada a ver com a candidatura desse camelô. Sarney respondeu: Doutor Roberto, eu não precisei fazer isso com nenhum candidato. E não o faria com Sílvio Santos, segundo consta da narrativa do jornalista Arlindo Silva no livro A Fantástica História de Sílvio Santos.
Marcondes Gadelha, que na época era senador pela Paraíba, ganhou a amizade e a admiração de Sílvio Santos quando participou do quadro Show do Milhão, que incluía perguntas sobre assuntos gerais e detinha grande audiência em todo o país. Estou plenamente convencido de que Sílvio teria condições de ganhar a disputa presidencial naquele ano se não tivesse havido o rolo compressor para impedi-lo de concorrer. Aliás, o rolo compressor deveu-se justamente à ameaça que ele representava a políticos e grupos tradicionais, ressaltou Marcondes, lembrando que a eleição de 89 foi inteiramente atípica e que Sílvio tinha grande penetração, sobretudo nas classes C e D, pela perspectiva de ascensão social que criava no imaginário dos mais pobres. Gadelha foi indicado pelo PFL (hoje DEM) após pesquisas constatarem que o então pré-candidato a presidente, Aureliano Chaves, que foi vice do general João Figueiredo, não tinha carisma ou popularidade para vencer o pleito.
Quando foi recepcionado pelos novos correligionários do PMB (Partido Municipalista Brasileiro) em solenidade na sala de Comissão de Economia do Senado, Sílvio Santos era tratado como candidato oficial da sigla presidida por Armando Corrêa, um político mineiro do baixo clero, advogado militante e evangélico, com raízes políticas no interior de São Paulo. Marcondes Gadelha foi articulador ativo da suposta candidatura de Sílvio, juntamente com os senadores Hugo Napoleão, presidente do PFL, e Edison Lobão. Para que Sílvio fosse indicado pelo PMB, junto com Gadelha, houve uma longa negociação em torno da renúncia de Armando Corrêa e seu vice, o deputado estadual do Pará Agostinho Linhares. No dia 31 de outubro, Sílvio autorizou o PMB a efetuar o registro de sua candidatura a presidente da República nas eleições de 15 de novembro de 89. Sílvio ainda gravou mensagens para o horário eleitoral gratuito e estava preparado para uma campanha sui generis, com dois minutos e meio do tempo do partido para esclarecer ao eleitor como votar nele: Para votar no Sílvio Santos marque 26 Armando Corrêa. Votando no Armando Corrêa, 26, vocês estarão votando em mim. Isso ocorria porque não havia mais tempo para colocar o nome de Sílvio na cédula eleitoral.
A sessão para discutir a legalidade ou não da candidatura de Sílvio estava programada para 9 de novembro. O jurista Célio Silva, advogado de Fernando Collor, acusou o PMB de não ter cumprido requisitos da lei eleitoral, como a realização de convenções em nove estados e em um quinto dos municípios de cada estado antes de 15 de outubro. Diante dessa realidade, o advogado de Collor pedia simplesmente que o TSE declarasse a nulidade. Em paralelo, o procurador-geral da Justiça Eleitoral Aristides Junqueira denunciou Sílvio por violar lei complementar que exigia a desincompatibilização, três meses antes, de quem fosse concessionário de serviço público e pretendesse disputar cargo eletivo. O SBT, de propriedade de Sílvio, é uma concessão do governo federal. O mais jovem ministro do TSE, Antônio Villas Boas, então com 43 anos, desempenhou o papel mais importante no julgamento do processo, alegando que o PMB não existia como partido e Sílvio não podia ser candidato porque era dono do SBT. Sílvio foi, finalmente, afastado do páreo. Ainda chegou a dar declarações de que não pretendia deixar a política, mas acabou se voltando para suas atividades empresariais e jornalísticas. No dia 10 os jornais noticiavam em destaque a impugnação da candidatura de Sílvio e a queda do Muro de Berlim, na Alemanha. São episódios como estes que Marcondes pretende resgatar, contando detalhes das articulações políticas de que participou ativamente. Gadelha voltou a ocupar mandato parlamentar em Brasília pela sua condição de suplente de deputado federal, ascendendo com a vaga causada pela morte do deputado Rômulo Gouveia (PSD), que participara da mesma coligação de Gadelha no pleito de 2014.
Nonato Guedes