Na segunda rodada de entrevistas, ontem, no Jornal Nacional, da Rede Globo, com candidatos a presidente da República, o capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL) tinha tudo para ser a sensação entre os telespectadores, diante da linguagem contundente que tem utilizado e da tentativa de construir a imagem de um justiceiro, a despeito das incoerências de sua trajetória – o que vem lhe valendo boa pontuação em pesquisas de intenção de voto, sobretudo quando não é mencionado o nome de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso em Curitiba. Quem acabou roubando a cena, porém, no embate com Bolsonaro, foi a apresentadora Renata Vasconcellos, que divide a bancada do JN com William Bonner.
Uma pergunta feita a Bolsonaro sobre desigualdade salarial entre homens e mulheres e sobre propostas que ele teria para equacionar impasses na relação trabalhista foi a gota dagua. O parlamentar tentou se esquivar de respostas mais profundas, seguindo um enredo que tem adotado em intervenções públicas no papel de candidato e derivou para uma comparação infeliz entre os salários dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, insinuando que, embora não conhecesse oficialmente os valores que eles recebem, supunha ser Bonner melhor aquinhoado. Foi quando Renata Vasconcellos interrompeu o candidato do PSL ao Planalto, observando, em tom de firmeza e indignação, que não é da conta dele o valor do salário que ela recebe nas Organizações Globo, por se tratar de uma empresa privada.
No reverso da medalha, a apresentadora afirmou que, como contribuinte, ajuda a pagar o salário do deputado federal Jair Bolsonaro e nem por isso tem conhecimento de quais os projetos ou propostas relevantes que ele apresentou em 27 anos de vida pública favorecendo a população brasileira. A atitude de Renata pegou de surpresa o candidato do PSL, que titubeou, gaguejou, mas não conseguiu produzir respostas satisfatórias, passando a imagem de despreparo, que tem sido recorrente nas suas aparições. O puxão de orelhas de Renata Vasconcellos viralizou na web e logo a imaginação criadora dos internautas produziu a elaboração de memes ironizando o ridículo das posições do candidato ou tecendo críticas a Renata e às Organizações Globo. Bolsonaro tem sido um candidato controverso na atual campanha eleitoral e os especialistas em pesquisas ainda têm dúvidas sobre o potencial dele para ir, por exemplo, para um segundo turno.
A agência Folhapress, a propósito, revela que ontem em Brasília o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, pediu vistas e adiou o julgamento que poderá tornar o presidenciável Bolsonaro réu sob acusação de racismo. O placar do caso, que está sendo julgado pela Primeira Turma do Supremo, estava em 2 a 2 quando a sessão foi suspensa. Moraes disse que ocaso deve voltar à pauta da turma na próxima semana. Até o momento, votaram pela abertura da ação penal os ministros Luís Roberto Barroso e Rosa Weber. Já o relator Marco Aurélio e o ministro Luiz Fux votaram por rejeitar a denúncia da Procuradoria Geral da República.
Nonato Guedes