Uma reportagem da revista ISTOÉ afirma que em nenhum outro momento da história brasileira a participação das mulheres no processo de escolha de um presidente da República será tão decisiva quanto nas eleições de outubro. Maioria do eleitorado, elas definirão quem será o próximo ocupante do Palácio do Planalto, e pela primeira vez nunca foi tão grande o número de candidatas a vice. Em pesquisas realizadas, 80% delas disseram ainda não ter candidato(a) os homens indecisos somam 58%. Já 25,5 milhões de eleitoras pretendem votar em branco ou nulo. A corrupção é o maior problema do País para 19% do universo feminino, mas elas afirmam que o presidente deve priorizar Saúde, Educação, Emprego e Segurança.
De acordo com a reportagem, o voto da mulher embute uma característica bem particular. É cristalizado na reta final da campanha, portanto é mais cuidadoso e dotado de cores mais racionais, que fazem com que uma gama variada de aspectos envolvendo os candidatos seja minuciosamente ponderada. Historicamente, as mulheres aguardam que o quadro de informações das campanhas esteja mais completo e só se interessam mais fortemente pelas eleições quando o horário eleitoral gratuito começa e os debates entre candidatos são realizados. Mais ainda, as eleitoras ficam na expectativa de algo que afete diretamente a vida da população, como propostas para a saúde, educação, desemprego e segurança, afirma Fátima Pacheco Jordão, socióloga e autora de um amplo estudo sobre o poder do voto feminino. A atriz Thays Beltrami, 26 anos, encaixa-se nesse perfil. Só votaria em alguém que assinasse um documento se comprometendo com suas promessas, enfatiza.
Dos 13 candidatos ao Palácio do Planalto nas eleições deste ano, cinco escolheram mulheres como vices na chapa. O objetivo não é outro senão tornar o candidato à Presidência mais palatável ao eleitorado feminino, amplamente majoritário. O voto feminino só foi assegurado no Brasil sem qualquer tipo de restrição pela Constituição de 1946, dezoito anos depois de a potiguar Celina Viana se transformar na primeira brasileira a ter direito de votar graças a uma lei estadual de autoria do então governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine. Entre o voto de Celina e o direito pleno de sufragar sucederam-se legislações que permitiam a ida das mulheres às urnas mas dentro de várias condições. Em 1932, por exemplo, o Código Eleitoral previa o direito de escolher somente às mulheres casadas, com autorização dos maridos, e às solteiras e viúvas com renda própria.
As vices lançadas em chapas presidenciais este ano são Ana Amélia, Kátia Abreu, Sônia Guajajara, Manuela DAvila. Ana Amélia, filiada ao PP, é vice de Geraldo Alckmin (PSDB). Jornalista, 73 anos, foi a primeira mulher a apresentar um programa de economia na TV brasileira, na RBS de Porto Alegre. Deixou a emissora em 2010 para se eleger senadora no Rio Grande do Sul. Sua atuação parlamentar é muito ligada à defesa do agronegócio. Sônia Guajajara, do PSOL, é índia da tribo dos Guajajaras, tem 44anos, nasceu na Terra Indígena Araribóia, no Maranhão. Formada em Letras e Enfermagem, é coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do País. Ficou famosa em 2017 quando subiu ao palco da cantora Alicia Keys no Rock in Rio. Manuela DAvila é provável vice de Fernando Haddad (PT, que deve ocupar o lugar de Lula, inelegível por ser ficha suja. Jornalista gaúcha, 36 anos, era pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB até aceitar formar a chapa tríplex com Lula e Haddad. Kátia Abreu, do PDT, é vice de Ciro Gomes, da mesma legenda. Empresária e pecuarista, 56 anos, é uma das principais porta-vozes do agronegócio no país. Como senadora pelo Tocantins, era opositora ferrenha do governo Lula até se tornar amiga da ex-presidente Dilma Rousseff e virar sua ministra da Agricultura.
Nonato Guedes