Militar, engenheiro civil e bacharel em Direito, o paraibano Aurélio de Lyra Tavares, que dá nome a um logradouro público em João Pessoa, compôs, na condição de ministro do Exército, a Junta Militar que ascendeu ao poder em 1969 com a doença do presidente Arthur da Costa e Silva, impedindo a sucessão constitucional por parte do vice-presidente Pedro Aleixo, político e advogado mineiro. Anos mais tarde, numa das suas críticas contundentes ao regime militar instaurado em março de 1964, o deputado Ulysses Guimarães, líder maior do PMDB, referiu-se à Junta Militar como Os Três Patetas. Além de Lyra Tavares, compunham a Junta os ministros da Marinha, Augusto Rademaker e da Aeronáutica, Márcio de Souza e Mello.
Lyra Tavares que nasceu em sete de novembro de 1905 em João Pessoa, faleceu aos 93 anos no Rio de Janeiro em 18 de novembro de 1998. Ele tinha formação de engenheiro civil, era casado com Izolina, com quem teve duas filhas e serviu em lugares como Cachoeira (RS), Paraná e Santa Catarina, tendo sido designado observador militar do Exército americano na campanha do norte da África e membro do Estado-Maior Especial da Força Expedicionária Brasileira. Foi sub-chefe da missão militar brasileira na Alemanha durante a ocupação em 1945. Durante os anos 50 e 60 foi promovido até chegar a general de exército.
A Junta Militar que substituiu Costa e Silva, impedindo a posse do vice, Pedro Aleixo, por força do Ato Institucional 12,de 31 de agosto de 1969, permaneceu dois meses no poder, editou ainda os Atos Institucionais 15, indicando a data de 15 de novembro de 1970 para os municípios sob intervenção federal, 16 (declarando vagos os cargos de presidente e vice) e o décimo sétimo, que transferia a reserva militares que atentassem contra a coesão das Forças Armadas. Pedro Aleixo, que faleceu em Belo Horizonte aos 74 anos, em março de 1975, não assumiu a presidência da República porque não tinha a confiança dos militares, embora fosse o primeiro na linha sucessória. Pedro fora contrário ao Ato Institucional número 5 e ao ser impedido de assumir a presidência desligou-se do governo. Em 1970, saiu da Arena e tentou organizar um novo partido político, o Partido Democrático Republicano, com poucos resultados.
Pedro Aleixo foi um dos signatários do Manifesto dos Mineiros, de 1943, uma das primeiras manifestações de protesto contra a ditadura de Getúlio Vargas por parte dos liberais. Chegou a ser ministro da Educação e Cultura em 1966. Aurélio de Lyra Tavares tinha por diletantismo escrever e publicar sonetos e poemas na imprensa com o pseudônimo Adelita, referência às iniciais do seu nome Aurélio de Lyra Tavares. Seu estilo não gozava de prestígio perante a crítica literária. A Junta Militar enfrentou o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, que resultou na troca por presos políticos que foram exilados no México. A Junta também determinou a cassação de deputados do MDB, a demissão de alguns oficiais e sargentos do Exército e exoneração de ministros civis para facilitar a formação do futuro governo, Conforme uma declaração do ex-ministro Augusto Rademaker, Pedro Aleixo somente não assumiu a presidência da República em substituição a Costa e Silva porque os três ministros militares não constituíram a Junta para substituir o presidente enfermo. Nosso propósito naqueles dias conturbados era o de responder pelo presidente Costa e Silva. A posse de Aleixo significaria sua substituição, disse Rademaker, desfazendo as versões de que Aleixo foi impedido de assumir por ter sido contrário ao AI-5. Depois de entregar o poder para Emílio Garrastazu Médici, Lyra Tavares foi nomeado embaixador brasileiro na França e assumiu a cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras. Ele costumava dizer que, ainda jovem oficial, já se preocupava com os graves problemas nacionais.
Nonato Guedes