Numa visita que fez, no fim de semana, ao Centro de Tradições Nordestinas, na zona norte de São Paulo, a ex-senadora Marina Silva, candidata da Rede Sustentabilidade à presidência da República, demonstrou interesse em herdar votos teoricamente cativos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na região e chegou a afirmar que o Nordeste não é um problema, mas uma solução. O ex-presidente Lula teve seu registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa e foi substituído pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, mas a cúpula nacional petista tenta reverter essa decisão na esfera judicial. Sem Lula no páreo, Marina Silva salta de 6% para 12% das intenções de votos. O ex-presidente Lula, em algumas pesquisas feitas já este ano, chegou a ser apontado como o candidato preferido por 60% de nordestinos.
Marina, em contato com jornalistas, assumiu o compromisso de manter, caso seja eleita, programas de inclusão social como Bolsa Família, menina dos olhos de gestões petistas, prometendo ampliar o seu alcance. Ela manifestou o desejo de contribuir para a criação de um ciclo de desenvolvimento que, no seu modo de ver, possa gerar emprego e renda na região do Nordeste, com investimentos em energia solar, energia eólica e no turismo. Ex-ministra do Meio Ambiente numa das gestões de Lula, Marina evitou tecer maiores comentários sobre a cassação do registro de Lula como candidato. Ela se recusou a ser fotografada no Centro de Tradições ao lado de uma mulher que dizia representar a personagem Maria Bonita e estava equipada com uma espingarda a tira-colo. Maria Bonita foi mulher do cangaceiro Virgulino Ferreira, Lampião. O casal foi morto por tropas policiais, após árdua perseguição pelo interior nordestino. Marina explicou que a recusa da foto deveu-se ao seu intento de não fazer apologia da violência, embora, pessoalmente, entendesse que a mulher que portava a arma valia-se de um adereço típico da região para efeito de coreografia nas apresentações que são normalmente feitas para turistas no Centro de Tradições Nordestinas.
Em 2010, quando alcançou seu melhor desempenho em corrida presidencial, concorrendo pelo Partido Verde e chegando a provocar um segundo turno, do qual não participou mas que favoreceu a ascensão da petista Dilma Rousseff, Numa das entrevistas que concedeu naquela época, ela negou que tivesse tido alguma mágoa do ex-presidente Lula. Pelo contrário, tenho carinho, respeito e gratidão por ele. Eu tenho um investimento de 30 anos no presidente Lula, defendendo-o das piores injustiças. Quando eu vejo minha fé ser atacada como se eu fosse uma pessoa fundamentalista, enxergo a época em que atacavam o Lula, afirmou Marina, numa entrevista à revista Istoé. Nesse período, Marina opinava que o PT e PSDB possuíam bons quadros e deixou claro que não teria constrangimento ou dificuldade em requisitá-los para fazer parte de um eventual governo seu. A campanha de Marina em 2018 é mais difícil do ponto de vista logístico-operacional, já que a candidata não dispõe de maiores recursos para deslocamentos pelo País. Ainda assim, ela se desdobra em auditórios distintos, procurando levar uma mensagem de convencimento aos indecisos, conforme admite.
Nonato Guedes, com agências