Os males da recessão e da austeridade da política econômica do governo federal foram agravados no Nordeste pela intensificação da seca em 2015 e 2016 e a população sofre, agora, com um desemprego de 17% nas grandes cidades, muito acima da elevada média nacional em torno de 13%. A causa principal da crise devastadora do mercado de trabalho, acompanhada de aumento da miséria e da explosão de violência inédita, não é, porém, o corte de recursos dos programas sociais, mas o quase estancamento dos investimentos na expansão da capacidade produtiva e, por consequência, do emprego, que compõe a maior parte do total acumulado de 853,5 bilhões de reais em recursos de política pública destinados aos estados nordestinos entre 2000 e 2015, dos quais 209,2 bilhões, ou 24,5% daquela soma, endereçados aos programas Bolsa Família e Benefícios de Prestação Continuada.
Uma reportagem assinada por Carlos Drummond na CartaCapital informa que a forte contração de todos os aportes para a região ocasionou uma conjuntura semelhante à do período da crise da dívida externa dos anos 1980, piorada em muito durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, marcados por valorização do real, juros elevados, privatizações em massa, baixo crescimento e desmonte da capacidade estatal de atuação no planejamento do desenvolvimento regional. Estas são algumas das conclusões de especialistas em relação ao tema. Após uma década de redução dos desequilíbrios regionais, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE mostra no primeiro trimestre deste ano, em relação à população ocupada, uma diminuição de 1,7 milhão de pessoas no Nordeste e de 1,4 milhão no restante do Brasil, correspondentes a variações negativas de 7,6% nos estados nordestinos e de 1,6% nas demais unidades da federação. O desastre ocupacional na região, detalha o economista Felipe Macedo de Holanda, presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos, resultou na expulsão do mercado de trabalho de 933 mil empregados com carteira assinada e de 662 mil trabalhadores por conta própria.
Holanda assevera que o esfacelamento dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento no setor de óleo e gás e as agruras enfrentadas pela indústria de transformação explicam muito da destruição de ocupações urbanas, inclusive nos estados de Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. Acrescente-se o fato grave de que, do total de 2,09 milhões de extremamente pobres surgidos entre 2015 e 2017 no País, 1,51 milhão, ou 72,3% estão no Nordeste. São considerados extremamente pobres aqueles que vivem com menos de 5,89 reais por dia, o equivalente a 1,90 dólar à taxa de câmbio média de 2017. Holanda acredita que talvez seja necessário adotar medidas de política keynesiana tradicional como frentes de trabalho de obras contra a seca, para lidar com o desemprego e a redução das transferências tradicionais. Um outro dado preocupante é que, entre as cidades mais violentas do mundo, capitais nordestinas ocupam posições destacadas. A economista Tania Bacelar, professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco e ex-diretora da Sudene, adverte que o desemprego médio no Brasil está hoje em torno de 13%, enquanto nas áreas metropolitanas do Nordeste é de 17% e no interior da região oscila entre 14% e 15%. Tania observa que o mercado de trabalho nordestino, historicamente, é mais difícil do que nas regiões mais dinâmicas do Brasil.
Da Redação, com CartaCapital