O governador Ricardo Coutinho (PSB) tem pela frente apenas quatro meses de permanência no Executivo da Paraíba, que empalmou no dia primeiro de janeiro de 2011. Naquela oportunidade, em seu longo e detalhado discurso de posse, na Assembleia Legislativa, então presidida pelo deputado Ricardo Marcelo, o governador foi enfático: O que antes foi regado em muitos sonhos hoje transborda numa mesma realidade: o povo chegou ao poder. Cientistas e analistas políticos paraibanos reconhecem que Ricardo deu passos importantes para descentralizar decisões e envolver a participação popular no processo de definição de prioridades e citam como exemplo positivo, entre outros, a adoção do Orçamento Participativo, que retirou de grupos políticos a prerrogativa de apontar obras e melhoramentos a serem implantados, dentro do velho estilo do clientelismo político.
A obsessão do governador em democratizar prioridades da administração, em certa medida, era coerente com o seu perfil de líder político desvinculado de oligarquias e com forte militância em movimentos sociais e sindicais, comenta o historiador José Octávio de Arruda Mello, admitindo que, desse ponto de vista, o comportamento adotado por Coutinho constituiu singularidade louvável num Estado onde imperou, por muito tempo, o condomínio de grupos poderosos. Ricardo acenou, no discurso, com tempos mais justos e solidários, mais democráticos e tolerantes, mais desenvolvimentistas e sustentáveis. Mais humanos, em resumo, acrescentou.
Adversários políticos afirmam que os compromissos enunciados por Ricardo, depois da batalha eleitoral, simbolizavam exercício retórico. Fazendo coro com esse ponto de vista, representantes de entidades classistas queixam-se de que, muitas vezes, faltou diálogo devido à intransigência do governo de Ricardo e também ressaltam o descumprimento de promessas assumidas em praça pública. Mas o próprio governador, que surpreendeu a todos decidindo não se candidatar ao Senado, para o qual aparecia como favorito, tem dito, nos últimos dias, que a avaliação isenta e desapaixonada dos dois períodos administrativos que tem empalmado no Palácio da Redenção fará justiça a ele e à sua equipe de auxiliares e colaboradores.
– O governo que se inicia enfatizou Ricardo, ainda no discurso de posse não terá apenas os pés no chão, mas na estrada, nas picadas, atravessando porteiras e pontes, numa permanente caravana de cidadania e ações. Não teremos mais terra a prazo, mas terra à vista. Ele defendeu, também, como necessária, a articulação com governadores de outros Estados do Nordeste, como estratégia para que a região fosse redimida de etapas de discriminação comparativamente com Estados do Sul e do Centro-Sul. A Paraíba, sozinha, não foi e nem irá a lugar nenhum. Ela precisa ser inserida nesse balaio de desenvolvimento da nação nordestina que cresce a índices internacionais e que não irá parar por aí. Esse pacto regional, de claros contornos federativos, não implica em divisão de forças ou esfacelamento político. Ao contrário, reequilibra, social e economicamente, o que historicamente nos é de direito. Desde sempre, antes de muitos, a Paraíba esteve presente, de forma altiva e constante, na formação do povo brasileiro. Com diplomacia, mas com muita firmeza, estaremos cobrando o nosso quinhão, deixou claro o socialista. O deputado Hervázio Bezerra (PSB), líder do governo na Assembleia, ressalta que firmeza foi oque não faltou ao governador Ricardo Coutinho, sobretudo em enfrentamentos com o governo do presidente Michel Temer, que não demonstrou interesse em beneficiar Estados como a Paraíba.
Nonato Guedes