Primeira jornalista a mediar debates entre candidatos ao governo da Paraíba, em 2002, na TV O Norte, Nelma Figueiredo, que morreu bruscamente este ano e completaria 54 anos de idade no próximo dia 11 de Setembro, não escapou das pressões de comitês e de postulantes ao aceitar o desafio de conduzir aquele confronto, há 16 anos. Ela escreveu, no portal O Norte, um artigo-desabafo no calor da refrega entre os cordões políticos locais. Reproduzi suas palavras na minha coluna em 17 de novembro de 2002, com a observação de que o artigo continuava atualíssimo. Como continua até hoje.
Longe dos holofotes, despejado que fui como inquilino de redações que frequentei desde cedo, repasso os trechos principais do comentário de Nelma, uma das profissionais mais completas que tive o privilégio de conhecer e uma das melhores amigas, de verdade, que conquistei ao longo da minha jornada. Dizia Nelma: Não sei porque, de repente me vi pensando sobre as cores que dividem as eleições na Paraíba e no Brasil. Embora os partidos sejam diferentes, em ambas as situações o verde briga com o vermelho e me peguei refletindo sobre essas duas cores na minha vida. Me vi pensando sobre momentos verdes e momentos vermelhos.
Nelma acrescentava: Quando tirei minha Carteira de Identidade, achando que estava pronta para conquistar o mundo como cidadã, recebi um documento verde. Mas esse passaporte não foi suficiente para me garantir o exercício da cidadania. Faltava outro documento verde e, dias depois tirei também o título de eleitor. Mas descobri que meu sucesso não dependia apenas desses documentos verdes e tive que batalhar muito para conquistar o meu espaço na vida e no mercado de trabalho. Muitas vezes fiquei vermelha…de raiva, de decepção e de indignação diante de várias situações. Vi o verde insistindo em não chegar ao Sertão…
Vi o vermelho do sangue das vítimas de tantas tragédias, o verde de áreas improdutivas e o vermelho que move o ódio de políticos (…) Como jornalista, e acompanhando o dia a dia do povo, descobri que quem é verde um dia foi vermelho. E tudo isto me fez perceber que os candidatos, partidos e políticos oscilam como as ondas do mar (…) Agi certa por não mergulhar em nenhuma onda capaz de sujar a minha praia: a TV!.
Grande Nelma Figueiredo!
Nonato Guedes